A Nova ordem jovem

Como a sociedade hoje, ao colocar a juventude como valor mais alto, despreza e ridiculariza a sabedoria dos idosos

Origem cristã do capitalismo?

Contestação à tese que defende ser o capitalismo conseqüência necessária do cristianismo

DSI versus liberalismo

Resposta a um artigo escrito por um liberal, criticando a Doutrina Social da Igreja

“Teologia da Libertação” - O Comunismo invade a Igreja

Artigo e folheto sobre esta triste heresia materialista que provocou enormes estragos na América Latina, mas graças a Nossa Senhora de Czestochowa, destruidora do comunismo, está sendo debelada pelo Santo Padre.

Assistir ou participar

Artigo sobre as sutis e não-tão-sutis diferenças entre "assistir" e "participar" da Missa

Ser cristão em uma sociedade liberal

Explicação de porque a sociedade liberal não é propícia ao cristianismo, e vice-versa.

A Televisão

Saiba os efeitos da televisão (também conhecida como "Máquina de Fazer Burro" ou "Máquina de Hipnotizar em Massa") sobre as pessoas que têm este vício e aprenda como ela funciona.

Esquerda, direita e DSI

O que é "esquerda" e o que é "direita" na política, e como a Doutrina Social da Igreja difere de ambas.

Falácias

Escrevi este pequeno resumo das principais falácias (erros de argumentação) para uma lista de que faço parte:

Falácias de presunção:

Acidente: é a declaração de uma regra geral, aplicada a algo que não se enquadra na regra.
Esta lista é composta por usuários de internet.
Ora, usuários de internet visitam páginas pornográficas.
Logo, esta lista é composta por pessoas que visitam páginas pornográficas.

Acidente converso: é o contrário: uma exceção é usada como regra.
Os usuários desta lista são católicos e têm acesso à Net.
Logo, quem é católico e têm acesso à Net está nesta lista.

Falsa causa: é quando a concorrência de duas coisas faz com que seja tirada a conclusão de que uma é a causa de outra.
Se uma ocorre em seguida à outra, chamamos de "post hoc, ergo propter hoc" (depois disso, logo por causa disso); se ao mesmo tempo, "cum hoc ergo propter hoc" (com isso, logo por causa disso).
Tiraram o altar-mór de minha paróquia logo depois do Concílio Vaticano II.
Logo, o Concílio Vaticano II é a causa de terem tirado o altar-mór de minha paróquia.

Petição de Princípio: é quando a conclusão de um argumento é uma das premissas que o suportam. Dificilmente isto vai estar explícito...
Não há nada na Bíblia que diga a Bíblia não é a única regra de fé e prática do cristão (implicitamente afirma-se que só a Bíblia é a regra etc., pois só nela se buscam "provas").
Logo, a Bíblia é a única regra de fé e prática do cristão.

Questão complexa: é a questão feita de modo a não deixar saída que não a aceitação de uma conclusão implícita.
"Os governos federal, estadual e municipal devem continuar usando grande parte do orçamento público para pagar a dívida interna dos especuladores?"(pergunta do plebiscito da CNBB)
Caso a resposta seja afirmativa, vc é a favor de gastar o orçamento com especuladores.
Caso seja negativa, vc é contra gastar o orçamento com especuladores.
Em todo caso, vc concorda que a pagar dívida é gastar com especuladores.

Falácias de Ambiguidade:

Equívoco: é o uso de uma palavra com vários sentidos para levar a uma conclusão errada.
Meu filho diz que o velocípede dele é legal (bom, agradável).
Ora, veículos legais (com a documentação em dia, piscas, faróis, etc.) podem circular na estrada.
Logo o velocípede do meu filho pode circular na estrada.

Anfibolia: é quando a construção gramatical de uma frase cria uma ambiguidade:
Mataram um rapaz que estava passeando com uma pedra na cabeça.
Logo, é perigoso passear com uma pedra na cabeça.

Ênfase: é uma ambiguidade produzida pela ênfase em um ponto errado da frase.
Hoje, Olavo de Carvalho escreveu um artigo só com palavras compridas
Logo, ele costuma escrever artigos só com palavras curtas.

Composição: é quando se infere que um grupo maior, ou um todo, tem um atributo de uma parte dele.
Todos os consertos que fiz em meu carro foram bem feitos.
Logo, os mecânicos de minha região são bons.
Note-se que há uma diferença crucial entre esta falácia e a do acidente converso: não se trata de tirar uma regra a partir de uma exceção, como naquela, mas de aplicar a um conjunto algo que só se sabe no particular.

Divisão: é inferir que cada membro de uma classe, ou parte de um todo, tem um atributo que é do todo.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é esquerdista.
Ora, D. Pestana é um Bispo no Brasil.
Logo, D. Pestana é esquerdista
Note-se que há uma diferença crucial entre esta falácia e a do acidente: não se trata de aplicar uma regra geral a uma exceção, como naquela, mas de aplicar a um particular algo que se sabe do conjunto.

Falácias de relevância:

Apelo à força (argumentum ad baculum - literalmente, "argumento ao porrete"): é quando a pessoa concorda, ou... :)
Ou vocês concordam com as minhas opiniões, ou são expulsos da lista.
Ora, eu acho que cachorros da raça "poodle toy" são ridículos.
Logo, cachorros da raça "poodle toy" são ridículos.

Apelo à misericórdia (argumentum ad misericordiam): é o contrário; nesta falácia o importante é causar pena.
Eu tenho problemas cardíacos e não posso me estressar.
Se vcs ficarem discutindo na lista, eu fico estressado.
Logo, vcs não devem discutir.

Apelo à emoção (argumentum ad populum): é o famoso "jogar para a arquibancada", usando palavras fortes sem prova alguma.
Como qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento da Doutrina Católica pode facilmente perceber, a idéia absurda de que a Renovação Carismática possa ser considerada, ainda que em sonhos, algo compatível com a Tradição Revelada é ridícula.
Logo, a RCC é incompatível com a Tradição Revelada.

Apelo à autoridade (argumentum ad verecundiam): é quando se dá crédito a uma afirmação por ela ser a opinião de alguém respeitável.
O Pregador da Casa Papal, Raniero Cantalamessa, acredita que a RCC é supimpa.
Logo, a RCC é supimpa.

Argumento Ad Hominem: é quando se nega a veracidade de uma afirmação porque ela é defendida por alguém que não é lá essas coisas. É o oposto da vista acima
Padre Marcelo Rossi acredita que a RCC é supimpa.
Ora, Padre Marcelo Rossi é um produto da mídia neoliberal e amigo da Xuxa.
Logo, a RCC de sumpimpa não tem nada.

Apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam): é quando se propõe que algo deva ser aceito até prova em contrário.
Nunca vi um milagre, nem jamais qualquer pessoa que eu conheço viu um milagre.
Logo, milagres não existem.

Conclusão irrelevante (ignoratio elenchi): é quando as premissas levam a uma conclusão diversa da que se tenta estabelecer com elas.
Eu não tenho dinheiro para comprar um carro novo
Para ganhar dinheiro suficiente para comprar um carro novo é necessário trabalhar muito.
Logo, vcs devem trabalhar muito para me dar um carro novo.

©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

Convívio social natural, prisão não!

A suposta "socia(bi)lização" que é dada pela escola é na verdade exatamente o oposto.

Explico: Na escola, a criança fica imersa em um ambiente completamente artificial, sem semelhança alguma com a real sociedade. Um ambiente em que todos os que estão em torno têm a mesma idade, todos estão (normalmente) vestidos da mesma maneira, o ensino é dado igualmente para todos (o que faz os mais lentos terem dificuldades e os mais rápidos ficarem impacientes), etc...

O resultado prático é fácil de perceber: crianças que vão à escola normalmente têm enormes dificuldades em conversar com adultos ou crianças de outras faixas etárias, seguem doentiamente "modas" (pokemons, etc.), dão muito mais atenção à aceitação por aquela estranha sociedade artificial que ao que os mais velhos dirão, etc.

Sou professor, convivo e trabalho em escolas diariamente há mais de quinze anos, e sou plena e completamente a favor da educação em casa.

Minha dúvida inicial quando fui pela primeira feita exposto a esta alternativa foi exatamente essa; temia que a criança fosse ficar introvertida, sem capacidade de relacionamento social. Em suma, esse tipo de coisa que nós nos acostumamos a considerar "papel da escola", esquecendo que durante a imensa maior parte da História esta instituição só existiu em regimes ditatoriais (como Esparta, por exemplo).

Comecei a pesquisar quando um amigo meu, também professor, que passa metade do ano nos EUA e metade aqui, aventou a hipótese de educação domiciliar para sua filha. Minha atitude inicial era de descrença. Isso mudou, e mudou da água para o vinho.

Hoje, após ter convivido com crianças educadas em casa - que, ao contrário das crianças da escola, são perfeitamente capazes de "entrar no papo" dos adultos, respeitar os mais velhos sem ficar calado olhando para o bico do sapato, ter interesses próprios e não forçados por pressão dos pares, etc. - e ter percebido as imensas vantagens didáticas (que qualquer um que tenha lecionado em turmas pequenas pode imaginar), percebi que, realmente, a escola deve existir apenas como alternativa para os pais que não têm condições de educar seus próprios filhos.

Cabe lembrar, aliás, que este também é um processo em que os pais aprendem muito; aprendem inclusive a ser melhores pais.

Não se trata de uma "prisão"; prisão é a pobre criança ser encarcerada em uma sala onde ou é cobrada em excesso ou passa o tempo rabiscando o caderno sem poder levantar - a não ser que ela seja a medíocre exceção, para quem a aula é forçosamente dada - durante quase cinco horas por dia, com vinte minutos para brincar como deveria.

A criança deve sim ser "sociabilizada" fora da família também, jogando bola com outras crianças, brincando, entrando para os escoteiros, etc. A real socialização não é a que ocorre enquanto o professor olha para o outro lado, com o repetente ou brutamontes da sala ameaçando os mais novos. A real sociabilização na escola é a que ocorre no recreio, e olhe lá. Digo "e olhe lá' porque a tendência natural da criança é saciar a curiosidade dela pelos seus colegas de turma com quem não pode falar (a não ser aquilo que o professor manda ou deixa) durante a aula, e estes não têm diferenças suficientes para que a sociabilização seja efetiva.

O ideal é educar as crianças em casa e proporcionar a elas muitas, digamos "atividades grupais extra-curriculares", tomando sempre o cuidado de procurar atividades em que não sejam formados grupos por faixas etárias, sim por capacidade e competência, que incluam normalmente crianças de pelo menos dois anos mais velhas e mais novas. Isso sim é sociabilização real: aprendizado da diferença, do respeito à diferença, aprendizado com as outras crianças, que usam outras roupas, têm outros interesses, têm capacidades diferentes...

A pior situação possível... é a que é pregada por aí: a criança ficar presa na escola, enfiada em uma fatiota que é exatamente igual à dos outros, procurando freneticamente manter-se "atualizada" em toda mania consumista, convivendo quase que exclusivamente com crianças da mesmíssima idade, roupa e interesses, convivendo com adultos apenas quando são seus professores, sendo forçada a gastar um tempo louco aprendendo fora do seu ritmo, sendo sujeita frequentemente a uma doutrinação politicamente correta que prega da boca para fora o valor da diferença enquanto faz o possível para escondê-la... E então a pobre vítima, digo, criança, chega em casa e mal conhece seus pais. Ela tem o dever de casa do professor da escola (que é pouca coisa) e, muito mais importante, o dever de casa dos colegas: atualizar-se em pokemons, cavaleiros do zodíaco e sabe-se lá quais outros escapismos promovidos a fator de união maior de um grupo já demasiadamente homogêneo.

Os pais não conhecem os filhos, os filhos não conhecem os pais, as crianças não conhecem a diferença, e os pobres professores, mais tarde, vêem-se às voltas com adolescentes absoluta e completamente anti-sociais. Quem os tornou anti-sociais? A "socialização" escolar.

Nos EUA já são mais de milhão e meio de famílias que educam os filhos em casa. Praticamente sem exceção, seus filhos são os melhores nos exames de ensino fundamental e médio, e é raríssimo que eles se envolvam em problemas na rua (drogas, etc.).

©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

O Sacerdócio no Novo e no Antigo Testamento

O sacerdote, tanto no Antigo Testamento (AT) quanto no Novo Testamento (NT) é essencialmente aquele que oferece o sacrifício. Mas o que é o sacrifício, e o que é o sacerdócio?

O sacrifício consiste basicamente na apresentação a Deus em holocausto de uma vítima pelo sacerdote. A maneira mais encontrada de se referir ao sacrifício, no AT, é a menção do sangue da vítima. O sangue da vítima apresenta propriedades especiais de purificação, sendo usado para a purificação daqueles que pecaram, para certas práticas divinatórias, etc.

Assim podemos afirmar que uma característica marcante do sacrifício é a separação do sangue e do corpo da vítima sacrificial.

Tanto no AT quanto no NT encontramos três tipos de sacerdotes, cujos encargos são diferentes, e cujos sacrifícios, como não poderia deixar de ser, são de tipos diversos.

O grau mais alto do sacerdócio é o ofício do Sumo-Sacerdote, do primeiro dentre todos os sacerdotes. Ele é o centralizador do culto e é sob sua tutela que o culto é realizado. No AT esta função é dada por Deus a Aarão; chamamos por isso os sacerdotes judeus de sacerdotes aaronitas.

O grau intermediário do sacerdócio é o sacerdócio ministerial. No AT este sacerdócio é o encargo dos filhos de Aarão e, em grau inferior, dos levitas, encarregados dos encargos subordinados ao sacerdócio, mas não sendo capazes de oferecer sacrifícios (ou seja, sacerdotes).

Antes da elevação de Aarão ao sumo-sacerdócio e de seus filhos ao sacerdócio ministerial, havia contudo o sacerdócio ministerial realizado pelos primogênitos, o que é atestado pela troca que é feita a mando de Deus entre os primogênitos de cada família e os levitas, que passam a ser propriedade de Deus.

O grau mais comum do sacerdócio é o sacerdócio universal, comum a todos os fiéis. Assim, o povo judeu foi constituído por Deus um povo de sacerdotes.

No AT encontramos ainda a figura de Melquisedeque, o Rei Justo de Salém. Melquisedeque é um personagem interessantíssimo, sem pai, sem mãe, sem nenhuma explicação oferecida de sua origem. Ele, entretanto, é sacerdote do Deus Altíssimo, e Abraão paga o dízimo a ele. Sabemos, portanto, que Melquisedeque é superior a Abraão.

Mas como isso se traduz à realidade de hoje, à Igreja estabelecida por Deus no NT?

Sem que isso seja muito surpreendente, encontramos muitos pontos em comum com a noção de sacerdócio no AT. O sacerdócio cristão também apresenta três formas básicas, sendo uma a do sumo-sacerdote, outra a do sacerdote ministerial e finalmente o sacerdócio comum a todos os fiéis.

A Sumo-Sacerdote da Igreja é Jesus Cristo.

Os sacerdotes ministeriais são os ministros ordenados (o diácono, o padre e o bispo - são apenas graus diferentes do mesmo sacerdócio, que é exercido integralmente pelo bispo e subordinadamente pelo diácono e pelo padre).

E o sacerdócio comum aos leigos também foi mantido. Somos um povo de reis, sacerdotes e profetas.

Podemos, entretanto, notar que o sacerdócio do NT não é em absoluto o mesmo sacerdócio do AT. O sacerdócio do AT era hereditário (passava de pai para filho), enquanto o sacerdócio cristão é um ministério ordenado. Note-se que Aarão foi ungido sacerdote, mas seu sacerdócio foi transmitido diretamente aos seus descendentes.

O sacerdócio do NT é o sacerdócio de Melquisedeque. Como diz o salmo, "Tu es sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedec", és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque.

Mas a função do sacerdote ministerial continua sendo a mesma, embora muito mais bela e muito mais elevada: a apresentação do sacrifício.

O sacerdote cristão tem como sua principal função a apresentação do Sacrifício, do Sacrifício de Cristo na Cruz, que é novamente tornado presente na Santa Missa.

Igualmente a função do sacerdócio comum aos fiéis é ainda a mesma: somos chamados a nos tornar um sacrifício vivo, uma oferenda viva a Deus.

As duas funções não se podem misturar, posto que se tratam de dois tipos radicalmente diferentes de sacerdócio. O sacerdote ministerial age em nome da comunidade, apresentando o Sacrifício a Deus. O sacerdote comum age em seu próprio nome, santificando-se de modo a se tornar uma hóstia viva e santa para O Senhor.

Muitas vezes hoje em dia vemos uma certa confusão entre muitos fiéis de boa vontade a respeito da necessidade e da diversidade essencial do sacerdócio ministerial. Levantam-se questionamentos nunca antes feitos, como a possibilidade de ordenar mulheres; muitos padres, em nome de uma teórica afirmação dos leigos, acabam por entregar a leigos funções que eles poderiam (e deveriam!) realizar. Um exemplo disso é o ministério do batismo ou do matrimônio, que podem ser realizados ou assistidos por leigos, mas que ainda assim competem em princípio ao sacerdote.

No AT esta mesma questão se levantou, e dura foi a resposta de Deus!

Livro dos Números, capítulo 16:
Coré filho de Isaar, filho de Caat, filho de Levi, tomou Datã e Abiram filhos de Eliab, bem como Hon filho de Felet, que eram filhos de Rúben, 2 e se insurgiram contra Moisés com mais 250 israelitas, todos chefes da comunidade, membros do conselho e pessoas de posição. 3 Amotinaram-se contra Moisés e Aarão, e lhes disseram: "Já é demais para vós! Pois todos os membros da comunidade são consagrados e no meio deles está o Senhor . Com que direito vos colocais acima da comunidade do Senhor ?"

4 Apenas ouviu isto, Moisés prostrou-se por terra. 5 Depois falou a Coré e a todo o bando, dizendo: "Amanhã cedo o Senhor fará saber quem é seu e quem é o consagrado que ele quer perto de si. Fará aproximar-se de si quem ele escolher. 6 Fazei o seguinte: Coré, e vós de seu bando, arranjai turíbulos, 7 e amanhã, na presença do Senhor , colocai o fogo e o incenso. Aquele que o Senhor escolher, esse será o consagrado. Será o bastante para vós, levitas!"

8 Moisés disse a Coré: "Escutai, levitas! 9 Parece-vos pouco que o Deus de Israel vos tenha segregado da comunidade de Israel, e vos tenha aproximado de si para exercerdes o serviço da morada do Senhor e estar à disposição da comunidade para servi-la? 10 Ele te aproximou de si junto com todos os teus irmãos levitas, e agora ambicionais também o sacerdócio? 11 É por isso que tu e teus partidários vos amotinais contra o Senhor! E quem é Aarão para que murmureis contra ele?"

12 Moisés mandou chamar Datã e Abiram filhos de Eliab. Mas eles responderam: "Não iremos! 13 Não basta nos teres tirado de uma terra onde corre leite e mel para nos fazeres morrer no deserto, e ainda nos queres tiranizar? 14 Na verdade não nos conduziste a uma terra onde corre leite e mel, e nenhum pedaço de terra ou vinha nos deste como herança. Queres cegar os olhos de todos estes homens? De forma alguma subiremos". 15 Moisés ficou muito indignado e disse ao Senhor: "Não dês atenção à oferta deles! Nunca lhes tirei nem sequer um jumento e a ninguém prejudiquei".

16 Depois disse a Coré: "Amanhã tu e teus partidários comparecei diante do Senhor , juntamente com Aarão. 17 Cada um pegará o turíbulo e porá incenso. Depois tu, Aarão e os 250 homens, munidos de turíbulos, vos aproximareis do Senhor ". 18 Pegando, pois, cada um seu turíbulo, puseram fogo e incenso e pararam à entrada da tenda de reunião. O mesmo fizeram Moisés e Aarão. 19 Coré reuniu em torno deles toda a comunidade na entrada da tenda de reunião. Então a glória do Senhor se manifestou a toda a comunidade.

20 O Senhor disse a Moisés e Aarão: 21 "Afastai-vos do meio dessa comunidade, pois vou acabar de vez com eles". 22 Mas, prostrando-se com o rosto em terra eles disseram: "ó Deus, Deus dos espíritos de todas as criaturas! Um só homem está pecando e te enfureces contra toda a comunidade?"

23 O Senhor respondeu a Moisés: 24 "Fala à comunidade nestes termos: Afastai-vos das proximidades da moradia de Coré, Datã e Abiram".

25 Moisés dirigiu-se para onde estavam Datã e Abiram, seguido dos anciãos de Israel, 26 e avisou a comunidade: "Retirai-vos já das tendas destes ímpios! Não toqueis nada do que lhes pertence para não serdes varridos por causa de seus pecados". 27 Eles se afastaram das proximidades da moradia de Coré, Datã e Abiram. Datã e Abiram, porém, saíram à entrada de suas tendas e ficaram ali parados com as mulheres, os filhos e as crianças. 28 Disse então Moisés: "Agora ides saber que foi o Senhor quem me enviou para fazer tudo o que tenho feito, e que não agi por própria conta. 29 Se estes morrerem como morrem todos os homens, e se tiverem o destino do comum dos mortais, então não foi o Senhor quem me enviou. 30 Mas se o Senhor fizer algo de inaudito, se a terra abrir as entranhas e os tragar com tudo que lhes pertence e eles desceram vivos para o abismo, então sabereis que estes homens desprezaram o Senhor ".

31 Mal acabou de pronunciar estas palavras, fendeu-se o solo debaixo deles, 32 a terra abriu as entranhas e os tragou com as famílias, os partidários de Coré e todos os seus pertences. 33 Logo que eles desceram vivos ao abismo com tudo que lhes pertencia, a terra os cobriu e assim eles desapareceram do meio da assembléia. 34 Ouvindo os gritos, todos os israelitas que estavam perto deles fugiram com medo de que a terra também os engolisse.

35 Um fogo mandado pelo Senhor devorou os 250 homens que ofereciam incenso.

Capítulo 17:

O Senhor falou a Moisés: 2 "Manda Eleazar, filho do sacerdote Aarão, tirar os turíbulos do meio do incêndio e espalhar as brasas mais longe, pois estão consagrados. 3 Quanto aos turíbulos dos que pecaram e pagaram com a vida, manda reduzi-los a lâminas para revestir o altar. Assim os turíbulos que foram apresentados diante do Senhor e ficaram consagrados, servirão de lembrança para os israelitas". 4 O sacerdote Eleazar pegou os turíbulos de bronze que tinham sido apresentados pelos homens que foram queimados, e mandou reduzi-los a lâminas para revestir o altar. 5 As lâminas serviam de advertência aos israelitas para que nenhum estranho aos descendentes de Aarão se aproximasse para oferecer incenso diante do Senhor e não lhe acontecesse o mesmo que a Coré e seu bando, conforme o Senhor tinha predito por meio de Moisés.

Nova revolta do povo. 6 No dia seguinte toda a comunidade dos israelitas se pôs a murmurar contra Moisés e Aarão, dizendo: "Fostes vós que matastes o povo do Senhor ". 7 Mas quando a comunidade se amotinava contra Moisés e Aarão e se dirigia à tenda de reunião, a nuvem a envolveu e a glória do Senhor apareceu. 8 Moisés e Aarão vieram para a frente da tenda de reunião.

9 O Senhor falou a Moisés e Aarão: 10 "Retirai-vos do meio desta comunidade para que eu acabe de vez com eles". Mas eles se prostraram com o rosto em terra. 11 Então Moisés disse para Aarão: "Pega o turíbulo, põe nele brasas tiradas do altar, coloca o incenso e corre para junto da comunidade a fim de fazer a expiação, pois o Senhor desencadeou seu furor e já começou a mortandade". 12 Aarão pegou o turíbulo conforme a ordem de Moisés e precipitou-se para o meio da multidão. Nesse ínterim a mortandade já tinha começado entre o povo. Mas ele colocou o incenso e fez a expiação pelo povo, 13 colocando-se entre os mortos e os vivos até cessar a mortandade. 14 As vítimas daquela mortandade foram 14.700, sem contar os que tinham morrido por causa de Coré. 15 Terminada a mortandade, Aarão retornou para junto de Moisés à entrada da tenda de reunião.

Vemos assim como foi punida, e duramente punida, a rebelião daqueles que confundiram o sacerdócio comum aos fiéis com o sacerdócio ministerial!

Isso poderia ser para nós apenas uma velha história pitoresca do tempo do deserto, mas não é. Encontramos no NT uma lembrança de que esta tentação de substituir-se ao padre pode ocorrer no meio do povo cristão:

Epístola de São Judas:

3 Caríssimos, desejando vivamente escrever-vos acerca de nossa comum salvação, senti a necessidade de fazê-lo exortando a combaterdes pela fé, que uma vez para sempre foi dada aos santos. 4 Porque dissimuladamente se introduziram alguns homens, já desde tempos antigos, destinados a esta condenação, ímpios que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam nosso único soberano e Senhor, Jesus Cristo.

5 Embora saibais tudo, quero, não obstante, lembrar-vos uma vez por todas que o Senhor, depois de salvar o povo do Egito, fez perecer, a seguir, os incrédulos. 6 Os anjos que não guardaram sua dignidade e abandonaram seu domicílio, ele os guardou presos com cadeias eternas nas trevas para o julgamento do grande dia. 7 Da mesma forma Sodoma e Gomorra e as cidades vizinhas, que, como elas, cometeram imoralidades, correndo atrás dos vícios contra a natureza, servem como advertência, agora que sofrem a pena de um fogo eterno.

8 Assim também eles num louco desvario mancham o próprio corpo, menosprezam a soberania de Deus e blasfemam dos seres angélicos. 9 O arcanjo Miguel, quando discutia com o diabo, disputando-lhe o corpo de Moisés, não se atreveu a proferir um juízo de blasfêmia mas disse: Repreenda-te o Senhor. 10 Estes, no entanto, blasfemam de tudo que ignoram. E se corrompem mesmo naquilo que, à maneira de animais irracionais, só conhecem de modo instintivo.

11 Ai deles, porque andaram pelo caminho de Caim e, pelo amor do lucro, caíram no erro de Balaão e pereceram na revolta de Coré! 12 Eles são a vergonha de vossos banquetes. Banqueteiam-se convosco sem vergonha nenhuma, apascentando-se a si mesmos. São nuvens sem água arrastadas pelo vento. São árvores no fim do outono sem fruto algum, duas vezes mortas, sem raízes. 13 São ondas furiosas do mar, que lançam a espuma de suas impurezas. Astros errantes, aos quais está reservada a escuridão das trevas para sempre.

O autor da epístola nos lembra do perigo que é acreditar naqueles que dizem que não são mais necessários os sacerdotes, daqueles que dizem que o sacerdócio comum aos fiéis pode ser colocado no lugar do sacerdócio ministerial.

Ora, se Deus castigou de maneira tão violenta aqueles que fizeram exatamente a mesma coisa no AT, e ainda nos colocou no NT um lembrete para que evitemos fazer o mesmo, é bom que pensemos bastante antes de acreditar que a função do padre possa ser exercida pelos leigos...

©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

A participação na Santa Missa

Infelizmente hoje em dia é comum que haja uma compreensão incorreta do que seja a participação na liturgia, e isto leva a enganos e abusos que muito têm contribuído para afastar a muitos da Igreja.

A noção de "participação" (pedida pelo Concílio Vaticano II e, antes disso, por vários Sumos Pontífices) está, ao contrário do que sempre foi a sua compreensão na Igreja, sendo vista como não mais uma real participação do cristão m uma ação da Igreja, mas como uma participação meramente acidental, que não leva em consideração a necessária ordenação hierárquica dos modos de participação.

A participação deve ser ordenada hierarquicamente por ordem de importância, não por ordem de visibilidade (que frequentemente aliás vem a ser o seu exato oposto). Assim, a participação do corpo deve ser subordinada à participação da alma, e a participação da vontade à participação do intelecto. Infelizmente muitos consideram ser mais importante que tenhamos uma assembléia reunida a responder em alta voz as partes que lhes competem da liturgia que uma assembléia que esteja compreendendo o que está se passando (e, evidentemente, o que está ou não a dizer), e que esteja, em sua alma, participando.

Participa mais da Santa Missa a velha senhora que percebe estar diante do mais belo e profundo Mistério e, enlevada pelo Sublime e fisicamente ocupada com suas devoções particulares (que podem não ser correspondentes ao texto litúrgico mas indubitavelmente o são em relação à ação litúrgica e sacramental cuja existência e majestade elas a ajudam a compreender), não responde em alta voz que a jovem senhora que responde aos brados, senta-se e levanta-se como se propelida por mecanismo de mola, abraça a força todos os que estão perto dela no "abraço da paz" e joga beijinhos para os amigos em outras fileiras... mas não percebe o que está acontecendo no altar.

Sua Santidade o Papa Pio XII já nos lembrou que não há como apelar igualmente aos sentimentos e à espiritualidade de cada um na liturgia. Não há comportamento que seja igualmente expressivo para todos. É evidente que os gestos litúrgicos tradicionais, como o ajoelhar-se, levantar-se, etc., têm um significado que é o mesmo para todos, mas não se pode esperar que a liturgia seja tão emocionante ou tocante, ou que atinja emocionalmente a todos da mesma exata maneira.

Daí ocorre em muitas paróquias um triste fenômeno: busca-se levar as pessoas a uma participação exterior, sem que lhes seja dada sequer a oportunidade de participação interior. Sacerdotes dizem o que diziam em minha infância os palhaços de circo ("mais alto!" "não ouvi!" "vamos lá, bem forte!"), músicas totalmente alheias ao espírito da liturgia são usadas para que seus ritmos acelerados levem as pessoas a um estado de excitação em que a vontade age sem o acordo do intelecto e o corpo se move sem cuidar da alma...

Assim, aparentemente, vemos uma assembléia a participar. Mas será que realmente haveria alguma participação?

Temos corpos que se movem, mas a alma fica como que morta.
Temos a vontade que age, mas o intelecto não tem domínio algum sobre ela neste momento.

Os corpos movem-se ao compasso da música, mas o Mistério que lá ocorre, exatamente devido a tantos fatores de distração (música ritmada, coreografias!!!, etc.) passa desapercebido da alma. A grandeza do Sacrifício de Cristo na Cruz tornado novamente presente de forma incruenta porém real - tão real quanto a existência de teu coração ou fígado - é obnubilada e diminuída acidentalmente pelo ambiente nada propenso à devoção. O movimento das cadeiras da "Heloísa" da fileira à frente passa a ter mais importância para muitos jovens - que mal esperam chegar a hora do abraço da paz para abraçá-la - que a Real Presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, abandonado no altar enquanto os fiéis(?) dançam, cantam e se abraçam. Não é de se espantar que tão poucos sigam os Mandamentos, tão poucos tenham uma vida espiritual mais rica que cantar músicas do padre roqueiro mais em voga em sua região... :(

A vontade age movida pelos sentidos, pelo ritmo da música, pela amizade aos que estão em torno, pelo carinho que se tenha para com fulano ou beltrano... Não pelo intelecto. Não é por perceberem pela Razão iluminada pela Fé a grandeza do Mistério que ora é celebrado que as pessoas se colocam de joelhos, mas por ouvirem a pavloviana sineta que anuncia a "hora de ajoelhar", assim como o "Oremos" anuncia a hora de se levantar. Não é para fazer as pazes com os inimigos que as pessoas se aproximam no "abraço da paz", mas para abraçar os amigos ou as moças bonitas...

Mas "a comunidade está participando", dizem alegremente os que percebem apenas este aspecto externo, enquanto ficam com a boca cheia d'água ao ver uma cesta cheia de frutas de cera.

Eles não percebem que a esta participação meramente acidental conquanto ruidosa seria infinitamente maior e melhor uma participação real, em alma e em vontade, de uma assembléia silente e imersa em seus devocionários ou terços bem rezados.

Eles não percebem, ai de nós, que esta "participação" é tão real quanto o catolicismo de tantos jovens que estão na Missa da noite todos os domingos porque aos sábados à noite vão para a boate e "ficam" uns com os outros - "sem problemas, eles usam camisinha..." - ou o de tantos casais que se fecham para a vida com pílulas, DIUs, castrações... e depois entram na fila da comunhão alegremente conversando com o colega do lado - isto quando não são eles mesmos a, habitual logo ilicitamente, distribuir o Santíssimo...

Rezemos por uma real participação, e procuremos fazer com que nossos irmãos e, sobretudo, nossos pastores compreendam o que realmente significa "participar".

Aproveito para contar algo que aconteceu comigo no domingo passado, a meu ver uma perfeita ilustração do que abordei naquele texto.

Fui passar uma tarde no parque com meus filhos e minha esposa, e deixei para ir à Missa na Catedral, no fim da tarde. Resolvemos, eu e minha esposa, aproveitarmos a visita à Catedral para nos confessarmos.

Chegamos um pouco antes da hora da Missa, e enquanto ela ficava com as crianças na frente da igreja entrei para ver se havia padre disponível para ouvir minha Confissão. Havia um grupo de jovens - um tecladista, uma cantora de belíssima voz e um casal assistindo -  ensaiando as (horrendas) músicas da "Campanha da Materialidade", digo, "da Fraternidade" deste ano. Evidentemente eles não estavam no coro, lugar onde os músicos deveriam estar, mas em lugar onde ficassem plenamente visíveis para todos...

Comentei com a moça, que assistia, que era uma pena ver voz tão bela cantando músicas tão pouco inspiradas. Ela me respondeu que gostava das músicas, e perguntou por quê eu não as apreciava. Respondi que, além das rimas pobres, da melodia fraca e do fato da música raramente acompanhar a melodia, as músicas expressavam uma mentalidade bastante acatólica, a da famigerada "teologia da libertação". Em tempo de Quaresma, disse, elas ignoram a conversão e a contrição para pregar bobagens materialistas que não se levam depois da morte.

Daí veio a pobre moça a me falar de como a CF era importante, do quanto era necessário que percebêssemos as desigualdades sociais e injustiças, etc. Respondi que pelos frutos podemos ver o mérito de uma obra. Os frutos do comunismo, sabemo-lo todos, são milhões de mortos e a destruição da Fé em larga escala nos lugares por onde passou. Os da TL... basta ver o que houve com seu principal porta-voz, Boff, apóstata e amasiado. Respondeu-me ela que lera seus livros e muito o apreciava, e que certamente ele era mais "santo" que muita gente que está na Igreja.

Perceba-se aí o duplo engano: achar que a participação/"presença-cantante" é "estar na Igreja" e achar que fora da Igreja há Salvação e Santidade.

Enquanto isso o rapaz ia atrás de padre para ouvir minha confissão, e eu esperava.

Daí veio a pobre moça a me dizer que sua irmã, 'tadinha, vivia amasiada ("casada" no civil) com um rapaz casado e "divorciado", e que sua vida era santa e ela não estava a cometer pecado algum, que isso era delírio da Igreja, etc.

Em um determinado momento ela parou de arrotar absurdos e saiu, dizendo que sentia muito mas tinha que ir distribuir folhetos da Missa (claro, sem folhetos não há "participação" cantante e sacolejante...).

Chegou então o padre para ouvir minha confissão. Pedi a ele que fosse no confessionário, ao lado do qual estávamos. "Precisa mesmo?", perguntou-me ele, evidentemente desacorçoado pela idéia. Respondi-lhe que pelo Código de Direito Canônico, cânone 964 parágrafos 2 e 3 era meu direito (anotem esses números!!!  ;)   ). Creio que não preciso descrever a cara que fez, enquanto resmungava que era a primeira vez que entrava em um confessionário(!)...

Então percebi que havia genuflexórios colocados de tal maneira que a parte onde a pessoa ajoelha trancava a porta dos confessionários, para impedir que lá fossem ouvidas confissões. Eles estavam em tal posição que era impossível usá-los para ajoelhar-se.

Ajudado por um seminarista, arredei um genuflexório para que o padre pudesse entrar.

Ele ouviu minha confissão e, parecendo desapontado com meus pecados(!), fez-me um discurso dizendo que a Confissão não era necessária, que Deus perdoa aqueles que pedem perdão diretamente a Ele, etc. Note-se que ele não disse que ***eu*** estava sendo escrupuloso (mesmo pq evidentemente não era o caso, não entro em detalhes para não escandalizá-los), mas que a Confissão, qualquer Confissão, era desnecessária.

Deu-me como penitência rezar uma dezena do terço pelos alcoólatras (que, com problemas de coordenação motora causados pela bebida, certamente têm dificuldades em balançar as mãos ritmicamente na liturgia).

Enquanto eu me levantava, surgiram várias pessoas que haviam visto o padre no Confessionário e queriam se confessar ali, mas o padre saiu dizendo que não ouviria suas confissões no confessionário de modo algum, e que iria para junto da porta da igreja para ouvir as confissões sentado em um banco ao lado dos que se confessavam. Ouvi vários suspiros e protestos, que de nada serviram. Ele estava inarredável em seu abuso de autoridade.

Fui então buscar minha esposa, que quando soube o que se passara decidiu esperar para se confessar com outro padre que poderia dar-lhe tbm direção de consciência correta.

E começou a Missa. Alto-falantes por toda parte distorciam o som que seria cristalino se não houvesse amplificação (posto que a Catedral tem uma acústica maravilhosa, desde que se fale do presbitério ou dos púlpitos), mas foi possível perceber que a homilia do padre (outro, aquele estava na porta da igreja, de pé, braços cruzados sobre a estola e pernas abertas) era sobre como a "amizade" é linda, e como tanta gente vinha para a igreja por causa dos amigos, vinham para o Grupo de Jovens e lá faziam amigos, que duravam para a vida toda...

E eu só pude então pensar em como realmente no Grupo de Jovens eles liam os livros do Boff e "aprendiam" que a amizade com o homem (expressa nesta "participação" puramente acidental), e não com Deus, é o que importa... :(

Chegando ao fim da Missa, foram à frente os famigerados dizimistas-modelo pregar as maravilhas do dízimo, enquanto o padre pedia palmas para eles e o grupo de jovens distribuía folhetos sobre o dízimo nas portas.

Haveria ali alguma real participação na Igreja?

Gostaria de crer que sim, mas se a há é a despeito do que se faz acidentalmente, não por causa disso.

©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

O que são as indulgências

A Igreja Católica vendia lugares no Céu?

É claro que não!

Para que possamos compreender como responder a esta absurda acusação, é necessário que compreendamos a doutrina das Indulgências.

"O pecado tem uma dupla conseqüência. O pecado grave [chamado pecado mortal (1Jo 5,16); é aquele que é cometido deliberadamente e conscientemente em matéria grave] priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos torna incapazes da vida eterna; esta privação se chama 'pena eterna' do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo o venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado purgatório. Esta purificação liberta da chamada ''pena temporal' do pecado. Estas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas antes como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, não subsistindo mais nenhuma pena.

O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. O cristão deve esforçar-se, suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora de enfrentar serenamente a morte, aceitar como uma graça essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, através de obras de misericórdia e caridade, como também pela oração e diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do 'velho homem' para revestir-se do 'homem novo". (Novo Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 1472 e 1473)

A pena eterna do pecado nos é perdoada pelo Sacramento da Reconciliação (Confissão - Cf. Jo 20,23). Quando recebemos a absolvição sacerdotal, temos perdoada a pena eterna, mas não a temporal.

Afinal, Jesus disse que devemos "pagar até o último centavo" (Mt 5,26).

O que significa isso?

Isto significa que quando pecamos deliberadamente (ou seja, não é um acidente- como derrubar sem querer algo pela janela e alguém ser atingido pelo objeto que cai, morrendo em conseqüência do impacto) e conscientemente (ou seja, quando sabemos que tal coisa é errada e mesmo assim a fazemos) em matéria grave (ou seja, em algo importante), estamos escolhendo dizer "não" a Deus e "sim" àquilo que escolhemos fazer: "sim" ao prazer proibido, "sim" ao fruto do roubo - logo ao ato de roubar, "sim", em suma, àquilo que colocamos naquele instante como valendo mais do que Deus, mais do que a Salvação. Esta escolha é aceita por Deus. Passamos a não mais ter a Sua graça, que trocamos pelo pecado. Este efeito (a perda da graça de Deus) é eterno; apenas pela absolvição sacramental (pelo Sacramento da confissão) podemos recuperar a Graça. Há também um outro efeito: ao fazer isso, nós de uma certa forma nos acostumamos a dizer "não" a Deus. É por isso que é mais fácil pecar pela centésima que pela primeira vez. Abismo atrai abismo, diz o ditado.

Esta conseqüência é chamada "pena temporal do pecado". Ela não ocorre apenas quando pecamos mortalmente; quando cometemos um pecado venial (ou seja, um pecado que não é mortal, que não se inclui nas condições acima), também passamos a ter "um apego prejudicial às criaturas", também passamos a achar mais fácil dizer "não" a Deus.

Como podemos nos livrar desta pena temporal? A pena eterna, já o vimos, é perdoada pelo Sacramento da Confissão. E a temporal?

A remissão da pena temporal pode ser feita pela caridade, oração e penitência.

Um costume muito antigo na Igreja é o das penitências públicas; o penitente, desejoso de pagar a pena temporal de seu pecado, após a absolvição sacerdotal ia para a rua para publicamente pagar por seu pecado.

Esta forma pública e pesada de penitência, entretanto, muitas vezes era impossível de cumprir para muitos, por razões de idade ou saúde.

A Igreja então, por misericórdia, apelou para o seu Tesouro de Méritos (as orações e obras de todos seus membros, vivos e mortos), e passou a indulgenciar alguns atos já por si meritórios.

O que é o tesouro de Méritos?

Imaginemos por exemplo Madre Teresa de Calcutá: sua santidade era assombrosa. Mesmo assim, ou talvez até por causa disso, ela fazia penitências constantemente. Não tratava de seus dentes, para poder usar a dor de suas cáries como penitência. Fazia também caridade como poucos fizeram; sua história é conhecida. Orava também ao menos quatro horas por dia. Será que ela teria tantos pecados assim, que fosse necessário orar tanto, fazer tanta penitência, tanta caridade, para que pudesse livrar-se das conseqüências temporais do pecado? Claro que não. Ela o fazia porque sabia que aquilo que não lhe servisse, aquilo que fosse "excessivo" seria adicionado ao tesouro de Méritos da Igreja. Suas orações, sua caridade e suas penitências foram colocadas à disposição da Igreja, para que a Igreja pudesse dispor delas em favor de pessoas que precisassem.

É através das indulgências que a Igreja distribui estes méritos, que a Igreja faz com que outras pessoas possam ser beneficiadas pelas orações, caridade e penitências "excessivas" de seus membros. Dentre os atos indulgenciados pela Igreja podemos contar, por exemplo, a oração feita em um cemitério no dia de Finados, a participação na construção de uma catedral, e muitos outros.

Pela instituição das indulgências, a Igreja proporciona a seus membros uma participação neste Tesouro de Méritos; como se um alimento que já é nutritivo (uma boa ação) fosse "vitaminado", passando a ter um efeito mais salutar que quando não "vitaminado" (ou seja, passando a ter uma ação maior na remissão da pena temporal do pecado que quando não é indulgenciado). A Igreja como que distribui entre seus fiéis, através das indulgências, os "centavos" que devemos pagar até o fim (nas palavras do Senhor em Mt 5,26), ajudando-os assim a chegar à perfeição.

A Indulgência corresponde a um período de penitência pública. Uma indulgência de cem dias, por exemplo, referir-se-ia a cem dias de penitência pública. Hoje em dia, por não haver mais penitências públicas (a não ser em alguns lugares, como as Filipinas), as pessoas perderam de vista o referencial que era então usado, e a Igreja passou a classificar as indulgências apenas como plenárias (remissão total da pena temporal) ou parciais.

Para que uma indulgência possa ser recebida, porém, é necessário que sejam cumpridas algumas condições:
1 - Deve ter sido feito um exame de consciência rigoroso e minucioso, seguido de Confissão e subsequente absolvição sacerdotal, além de assistir a Missa completa e comungar.
2 - A pessoa que faz o ato indulgenciado deve ter absoluto horror aos pecados que cometeu e a firme intenção de não mais cometê-los.
3 - Ela deve ter em mente seu desejo de lucrar a indulgência associada ao ato enquanto o executa.

Dentre as ações indulgenciadas, havia algumas que podiam ser feitas de maneira indireta (o que foi proibido no século XVI, por haver uma compreensão errônea da doutrina por muitos). Um exemplo disso seria a participação financeira na construção de uma catedral.

Ora, para que alguém lucre uma indulgência, é necessário que antes tenha se confessado (afinal, São João escreveu que não adianta orar pelo irmão que cometeu um pecado que é de morte - 1Jo 5,16 É preciso que ele antes obtenha o perdão deste pecado - Cf. Jo 20,23). Para lucrar uma indulgência, portanto, a pessoa já deve ter sido absolvida da pena eterna de seu pecado, que a levaria ao Inferno.

Indulgências, portanto, nunca poderiam levar para o Céu alguém que por seus atos escolheu o Inferno.

Além disso, há a necessidade de que a pessoa tenha horror ao pecado cometido e firme intenção de não mais pecar. As indulgências não podem ser aplicadas aos pecados ainda a cometer, apenas aos já cometidos, e mesmo assim apenas nas condições expostas acima.

A indulgência é na verdade muito menos "indulgente" que a doutrina humana da garantia de salvação dos crentes independentemente dos pecados posteriores à sua conversão, pregada por muitos protestantes.

Dificilmente isso poderia ser considerado venda de lugares no Céu!...

©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

A pena de morte e a Doutrina da Igreja

Um amigo, católico como eu, e também como eu contrário à pena de morte em nosso país, levou um pouco além do desejado a sua argumentação. Disse ele que:

A pena de morte é uma desobediência ao mandamento de não matar.

Ao que respondi:

Eu presumo que você também não concorde quando o Catecismo diz que o dia de descanso do cristão é o domingo e não o sábado; afinal, assim como o texto bíblico dos Mandamentos diz "não matar", também diz para "guardar e santificar o sábado"...

O problema básico do seu raciocínio é que ele se atém ao que você conhece e entende, ignorando e considerando irrelevante o que o ultrapassa. E você conhece e entende muito mais do que lê nos jornais ou ouve em reuniões políticas do que o que a Igreja prega.

A Igreja sempre teve a pena de morte como legítima e lícita. O Catecismo de Trento, usado já há 428 anos sem interrupção, traz esta frase. O Novo Catecismo tampouco condena (nem poderia) a pena de morte, colocando apenas a questão dela ser ou não adequada, de haver ou não necessidade dela.

Algo que é ensinado sem interrupção pela Igreja ao longo de séculos é correto. Se assim não fosse, o Espírito Santo estaria enganando a Igreja, e Ela estaria pregando falsidades. As portas do Inferno teriam prevalecido contra Ela.

A opinião pessoal de um bispo, de um Papa, de um grupo de fiéis ao longo de uma ou duas gerações não tem peso algum perto do que a Igreja sempre ensinou.

A Igreja existe para ensinar, santificar e governar. Ela não existe para inventar ensinamentos, mas para transmitir o Depósito da Fé a Ela confiado e por Ela mantido em sua íntegra. O mundo muda (aliás o mundo gira e a lusitana roda, mas isso não vem ao caso), mas a Igreja não muda, assim como não muda a Sua Doutrina.

A razão disso é clara: a Igreja não é a dona da Verdade,podendo mudar a Verdade ou jogá-la fora. Ela é a depositária da Verdade, e tem a missão de fazer a mesmíssima Verdade chegar aos ouvidos de todas as gerações.

A sua compreensão (ou a minha, ou a do Zebedeu da esquina, ou até a do Papa) desta Verdade não A limita nem o poderia fazer. Não podemos achar que a Verdade se encerra onde se encerra a nossa capacidade de compreensão.

O que a Igreja ensina muitas vezes só vai se mostrar realmente acertado depois de séculos em que aquele ensinamento pareceu absurdo e sem sentido. Outras vezes depois de apenas alguns anos; agora, por exemplo, os efeitos deletérios dos contraceptivos e, mais importante, da mentalidade contraceptiva começam a aparecer. E é agora que podemos começar a perceber o acerto da doutrina imutável da Igreja, ao condenar estas práticas (como já condenava antes o coitus interruptus...).

Do mesmo modo agora a nossa sociedade, imbebida de modernismo, considera que o homem é a medida e o fim último de todas as coisas. A Deus, substitui-se o Homem. Assim, o maior crime para a nossa sociedade é o crime contra o Homem, não mais o crime contra Deus.

Negar a Verdade não é criminoso; mas ai de quem negar a democracia! Atentar contra Deus não é criminoso; mas ai de quem atentar contra a vida humana. A Vida Eterna é relegada ao rol das superstições ultrapassadas, e alguém que se dedique a buscar arrancar a Vida Eterna dos irmãos tem "direito de expressão" (Cf. "O Povo contra Larry Flint" - seria este o nome? O filme sobre o pornógrafo, pintado como herói por ter a "coragem" de publicar fotografias obscenas), mas alguém que justamente por prezar a Vida Eterna, se levante legítima e legalmente contra aqueles é pintado como um monstro repressor (e isso vai desde os Inquisidores - São Carlos Borromeu, rogai por nós! - até, em alguns círculos, o Santo Padre João Paulo II).

Isso se mostra em todos os campos: no da política, o erro maçônico contido na Constituição americana é visto por muitos como uma expressão da verdade, e são poucos os que têm a coragem de afirmar a Verdade Revelada de que o poder não emana do povo, e não é em seu nome que deve ser exercido.

No da moral, não é sequer necessário entrar no assunto; basta parar por dois minutos defronte a uma banca de jornais para fazer qualquer cristão digno deste nome ansiar por uma garrafa de gasolina e um fósforo, para não falar das obscenidades que parece haver na Internet (graças a Deus não sei onde tem).

No campo da religião, então, a coisa vai mais longe ainda: é o subjetivismo que reina, e cada um se sente com autoridade superior à do papa, superior mesmo à de Jesus, e acha que porque sua cabecinha limitada não entende algum ponto da Verdade Revelada, é Esta que está errada e deve ser "podada" até que se adeque a seus preconceitos. Isso se reflete no surgimento de milhares de seitas, em que cada um escolhe a que prega exatamente o que quer ouvir, na falsa obediência dos que se dizem católicos mas são a favor do aborto e da livre interpretação particular da Doutrina (o chamado catolicismo de bufê, em que cada um se serve do que quer e deixa o resto para lá), no sucesso das LBV e outras seitas que propagam "só fazer o 'bem"...

E também na questão da pena de morte. Imbuídos de uma visão modernista, segundo a qual é o homem o mais importante, é a vida física do homem o único fator digno de consideração, muitos - em geral os mesmos que preferem o agitprop à Inquisição, aliás - se alevantam contra a Doutrina da Igreja e pregam que a Pena de Morte é um mal em si (note-se que o aborto, pena de morte aplicada a inocente, não é tão mau assim para eles; afinal, ninguém está vendo que há uma criança ali...), algo que não condiz nem poderia condizer com o deus que inventaram para si.

Se quiserem restabelecer a pena de morte no Brasil você pode contar comigo para participar de movimentos contra. Mas por favor, não tente achar que a opinião que partilhamos é a Doutrina da Igreja.


©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor