Pós-Modernidade

O que é a pós-modernidade, e como reconhecê-la na Igreja.

D. Cláudio Hummes, Arcebispo de São Paulo, diz que a Renovação Carismática tem muito a ver com a pós-modernidade. O que vem a ser essa tal pós-modernidade? Seria um modernismo ainda pior do que aquele que é a síntese de todas as heresias? Ou uma coisa não tem nada a ver com a outra?

Em grandes linhas:

A filosofia moderna (da qual o modernismo, heresia teológica, é um fruto) nega que seja possível perceber o mundo, as coisas em volta, a Verdade exterior ao indivíduo tal como ela é. Para a filosofia moderna, só o que importa é a idéia, é o pensamento do homem. A realidade é no mínimo duvidosa. Alguns dizem que a realidade exterior é duvidosa, outros que ela simplesmente não existe (é tudo invenção do pensante, essa lista não existe, não existe computador, não existe planeta terra, é tudo invenção minha - ou sua, ou dele, etc.).

O resultado social da filosofia moderna, se é que dá para chamar uma barbaridade dessas de filosofia (afinal, por mais coerente internamente que seja, o sujeito tem que negar a filosofia dele para ir ao banheiro, para comer...) é a preponderância da idéia sobre a realidade. Comunismo, nazismo, fascismo e mais um monte de "ismos". "Vamos fazer o paraíso dos trabalhadores. Eles não querem? Sibéria neles!". A realidade é ignorada, não há problema em matar cem milhões de pessoas para tentar moldar o mundo a uma idéia.

Foi a filosofia moderna que deu origem tbm ao Estado-Nação (tipo Brasil, França, EUA, etc.). Uma idéia de nacionalidade é usada como parâmetro para a organização política.

Foi a filosofia moderna, igualmente, que gerou o modernismo religioso, em que a Verdade muda de acordo com o freguês e com o tempo (claro, se não se pode apreender a Verdade exterior ao homem, muda de homem ela mudou, certo?).

Agora estamos entrando na filosofia pós-moderna, tbm chamada "desconstrução". Ela, ainda sem afirmar a realidade, preocupa-se em demolir as idéias que fizeram a farra dos modernos. Um "filósofo" pós-moderno só faz demolir o que os outros disseram, e fica furioso se "acusado" de fazer uma "crítica construtiva". Note que ele não está a acusá-los de não terem o pé no chão, de não aceitarem o que os sentidos dizem. Ainda é impossível, para o desconstrucionista ter certeza do que quer que seja fora de si mesmo - mais impossível que para o moderno, aliás, pois nem da idéia ele pode ter certeza.

Assim, se para o moderno o que valia era a idéia (marxismo, nacional-socialismo, capitalismo de mercado, positivismo... escolha o seu "ismo"), para o pós-moderno o que vale é a "intuição". Uma idéia pode ser aproveitada apenas se "desconstruída", ou seja, deixada de lado e tendo seus elementos constitutivos usados de maneira irracional e "intuitiva".

Assim, D. Hummes tem toda razão neste ponto. A "Teologia da Libertação" (TL) é moderna até dizer chega. Ela tem uma idéia (aquele bobagéu marxista disfarçado com termos cristãos) que pretende forçar, ignorando a realidade (ignorando por exemplo o Pecado Original; para o TL, se o sistema social for justo todos serão santos).

Já a RCC é completamete pós-moderna, como aliás o é o neo-pentecostalismo em geral. Ela funciona na base de "intuições", sem a menor preocupação de integrá-las em um arcabouço coerente, seja ele adequado à realidade (filosofia perene) ou, como para os modernos, internamente coerente (e assim pronto para fazer a realidade se submeter a ele, ainda que seja necessário mandar a realidade para a sibéria ou para o Paredón). A RCC usa elementos da TL, da Tradição, disse ou daquilo, mas sem a ereção de um sistema. Ao contrário, parece haver uma grande preocupação em não erigir um sistema, em tentar colocar juntos a contrição diante do Santíssimo e a dança desvairada, o amor à Virgem e a "oração em conjunto" com os hereges...

É um processo que não deixa de ter suas semelhanças com o atual processo de dissolução do Estado Nação, substituído por instituições supra-estatais (ONU, UE, ALCA, etc.) e, simultaneamente, por uma decomposição da sociedade em seus níevis mais baixos, com a adesão identitária sendo dada a valores de grupos pequenos ("tribos urbanas", "gays", "terceira idade", "galeras", etc.) em detrimento da identificação nacional ou doutrinária, que dava a identidade nos tempos modernos. Vc lembra do caso do Prestes? Ele perdeu a eleição por ter afirmado sua identidade como comunista antes e brasileiro depois. São duas identidades ideais em conflito, a nacional e a doutrinária, ambas 100% modernas.

É interessante perceber que em nossos tempos pós-modernos temos um fenômeno social que jamais ocorreu na face da terra: a enorme maioria da população do mundo está em sociedades onde não há um sistema comum de valores. Se jogarmos uma rede no centro de qqr cidade grande, das dez ou vinte pessoas que colheremos não conseguiremos extrair uma só coisa que todos, unanimemente, considerem errada e outra que todos considerem certa.

É por isso que, por exemplo, a criminalidade está tão forte, inclusive em formas absurdas (pedofilia, por exemplo): a lei não existe no coração de cada um (sim, eu sei que a Lei natural está gravada nos nossos corações, mas a sociedade educa para não só negar esta Lei como para não colocar nenhuma outra lei no lugar. Mais radical que quando o moderno Crowley dizia "faz o que tu queres, pois é tudo da Lei", a pós-modernidade ensina não haver Lei).

Isto começou a ocorrer de maneira bastante engraçada, aliás: os comunistas (modernos até dizer chega) achavam que o comunismo seria inevitavelmente o fim da História (é por isso que eles se intitulam "progressistas"). Achavam que o mundo, se fosse bagunçado o suficiente, derivaria inexoravelmente para o comunismo. Assim, resolveram trabalhar pelo desmonte da sociedade, pela bagunça. Assim eles conseguiriam, achavam, apressar a vinda do comunismo. Deram a maior força para todo tipo de guerrilha urbana (inclusive coisas que não tinham muito a ver com o comunismo, como os movimentos negros racistas americanos), para tudo o que pudesse aumentar a criminalidade (foram os comunistas que ensinaram o pulo do gato ao atual Comando Vermelho, quando os terroristas foram presos na Ilha Grande junto a presos comuns, por exemplo; são igualmente eles que fazem campanhas pelos "direitos humanos" de qualquer besta-fera e querem desarmar a polícia e os cidadãos), para tudo o que pudesse ajudar na dissolução da sociedade (homossexualismo, aborto...). Ao mesmo tempo, seguindo as técnicas preconizadas por um comunista italiano chamado Gramsci, começaram a trabalhar pela ocupação de espaços na formação do país - burocracia estatal, ensino acadêmico...

Se a população tivesse um conjunto de regras comum, universalmente aceito por todos - mesmo que fosse um conjunto de regras errado, como o Japão feudal que aceitava o assassinato e o homossexualismo -, a polícia teria como missão prender a exceção, o louco perigoso que não aceita este conjunto de regras. Como, porém, não há um conjunto de regras, a polícia poderia, em tese, prender qualquer um. Provavelmente todos nós cometemos ao menos um crime por dia.

Isto acaba fazendo com que nós, que lutamos pela Tradição, tenhamos uma excelente condição de trabalho: as pessoas estão todas buscando sentido em um mundo que aparentemente não faz sentido. Este sentido é a Igreja que pode dar. Uma versão torta e tremendamente incompleta dele é dada pelos muçulmanos, que estão crescendo tremendamente. Se nós apresentarmos a Tradição ao povo será possível arrebanhar multidões e devolver ao mundo seu sentido, inicialmente substituído pelas construções mentais dos modernos e depois pelo caos "intuitivo" dos pós-modernos.

O maior inimigo deste trabalho, ao menos aqui no Brasil, é a doutrinação comunista feita pelas escolas, governo e imprensa. Eles tentam (a imprensa cada vez menos) instilar a preponderância da idéia sobre a realidade. Por outro lado, temos estranhos aliados. Uma das coisas que mais tem tido efeito na luta contra o ideário comunista, por exemplo, é a moda estranha: os "bad boy", por exemplo (aquela figura medonha de um esgar de raiva) derruba mais dogmas comunistas que qualquer dogma moderno concorrente. :)

Temos, assim, a possibilidade de ordenar o "bad boy", fazendo de sua violência insensata uma violência sensata e em prol do Bem; de ordenar a sociedade, devolvendo a ela o sentido que só pode ser conquistado pela firma adesão à Verdade, que não é mutante nem fica apenas dentro do homem; de, em suma, transformar a decadência de nossa civilização em surgimento de uma nova Idade Média. Tudo está pronto para isso: o caos, a ausência de critérios, a busca da Verdade cada vez mais forte por parte de todos. Basta apresentarmos a coerência não apenas interna, mas com a realidade, que tem a Tradição, e tudo cai em seus lugares.


©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

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