É até bastante interessante perceber como a ausência de facto de uma autêntica filosofia da ciência permitiu os absurdos éticos que vemos hoje.
Explico: na medida em que a "filosofia" moderna (entre aspas, porque é menos uma filosofia real que um simples raciocinar sobre o raciocinar, masturbação intelectual sem pés no real "inatingível") nega a possibilidade de apreensão da realidade, na medida em que um "filósofo" moderno (ou, ai, pós-moderno) nega-se a aceitar a evidência de seus sentidos, não é mais possível aceitar aquilo que é a base de toda a ciência experimental.
Não é possível aceitar um teste de duplo-cego se não se pode ter certeza da própria existência do laboratório!
O resultado disso é que hoje temos dois mundos paralelos: um estranho hiperurânio onde se escondem os ditos "filósofos", "filosofando" sobre a filosofada de outros "filósofos" sem perceber que há um mundo real, e um mundo material onde, sem a menor noção de que pode haver algo about what all this is, cientistas divertem-se fazendo clones humanos para experiências com células-tronco.
Isto, quando vemos aplicado, ai, ai, ai, às ciências ditas "do homem", torna-se ainda mais amedrontador. Temos hoje um professor de bio-ética em Princeton (Prof. Singer) que "canta" que é a consciência que dá valor à vida. Assim, para ele, não há absolutamente problema moral algum em matar bebês de um ano, mas há si problema sério em matar uma galinha. Afinal, a galinha foge de quem tenta pegá-la, o que "prova" que ela tem consciência de estar viva. Do mesmo modo, em decorrência deste divórcio litigioso entre ciência (experimental e humana) e filosofia, vimos o crescimento dos totalitarismos (comunismo, nazismo...) e da ganância elevada a modo de organização da sociedade (liberalismo) neste século que já foi tarde.
O que são o marxismo e o liberalismo senão economia sem filosofia? O que é a eutanásia e o aborto senão medicina sem filosofia? O que são o Carandiru e a Febem senão direito sem filosofia?
Tive recentemente duas conversas bastante interessantes neste sentido. Em uma, procurei convencer uma moça, bastante inteligante, que está tentando fazer funcionar a escolinha que ela fundou há pouco tempo. A dita escolinha é construtivista. Ora, mandei-a estudar Platão. Não sou lá muito de Platão (apesar de ter gostado bastante do livro da Catherine Pickstock sobre a Liturgia Tradicional), mas ora bolas, construtivismo é platonismo aplicado. A moça nunca seria capaz de fazer de sua escola algo melhor que as fábricas de antas em que já lecionei se não tiver uma vaga noção, ao menos, da filosofia subjacente à escola (pseudo-)pedagógica que escolheu.
Na outra, um rapaz bastante inteligente estava querendo desistir da faculdade de filosofia na UCP (tomista) para correr atrás da cenoura pós-moderna da UERJ. Creio que foi quando eu disse que "o filósofo moderno ou pós-moderno tem que abdicar de toda a sua filosofia na hora que o estômago ronca, ou que a cabeça dói e ele toma uma aspirina" que ele mudou de idéia, graças a Deus.
©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor
No comments:
Post a Comment