Infelizmente tal prática foi permitida pelo Santo Padre João Paulo II em 1994, após inúmeras declarações de que jamais o faria. O indulto permitindo este uso - requerendo a autorização explícita do Bispo local, a explicação do ato aos fiéis, enfatizando não se tratar nem de norma nem de direito das mulheres e tornando claro que o preferível é o uso de pessoas do sexo masculino para estas funções - foi publicado nos Acta Apostolicae Sedis em 6.VI.1994, na forma de "interpretação autêntica" do Cânon 230.2. O Santo Padre confirmou a interpretação dada pela Congregação para o Culto Divino a pergunta que lhe havia sido encaminhada, dando assim condição de indulto (ou seja, exceção à regra geral, que continua válida e proíbe o uso de mulheres para tais funções) a esta autorização, em 11.VII.92. Note que entre a confirmação papal e a publicação foram dois anos, provavelmente repletos de brigas e disputas curiais que acabaram levando Sua Santidade a ceder.
Esta permissão foi dada provavelmente em conseqüência do abuso habitual desta prática por parte do clero modernista da Holanda e Alemanha, os mesmos que introduziram a figura do Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística na liturgia e, igualmente vencendo pelo cansaço e pela desobediência, conseguiram ver a aprovação de tal função, ainda que em circunstâncias excepcionais.
O Santo Padre, não podemos nos esquecer, é polonês. Sua pátria passou sua história sendo sucessivamente invadida pelos alemães e pelos russos, conseguindo no entanto preservar de maneira admirável a sua cultura, língua e práticas religiosas próprias. A maneira, contudo, como foi feita esta preservação pode ser percebida em seus reflexos na ação do atual Pontífice: os poloneses, tradicionalmente, cederam no acidental, chegando muito perto de ceder no essencial, mas jamais cedendo de todo. Assim conseguiram preservar sua cultura ao longo de tantos séculos sob dominações estrangeiras. O Santo Padre João Paulo II age precisamente desta maneira: Sua Santidade, ao ver-se confrontado a uma situação perigosa, prefere ceder no que não seja absoluta e completamente indispensável e aproveitar o tempo para ter uma vitória maior no futuro. Assim ele conseguiu esperar a aposentadoria da maior parte dos maus Bispos que conseguiram dioceses no vácuo de poder que houve durante os dez anos finais do papado de Paulo VI. Assim ele conseguiu deixar "morrer de velha" a chamada "Teologia da Libertação". Assim ele conseguiu editar o novo Catecismo, reafirmando as verdades de fé básicas que tanto foram negadas durante a confusão que se seguiu ao Concílio Vaticano II.
Esta tática, porém, tem um preço: é dificílimo para nós, que estamos do lado do Sumo Pontífice em sua luta pela restauração da Igreja, agüentarmos enquanto, aparentemente, os inimigos infiltrados têm livre curso para destruir. Quando sabemos que a técnica do Santo Padre é basicamente dar-lhes corda para que se enforquem, fica menos difícil. Mesmo assim a dificuldade jamais é pequena, e torna-se ainda maior quando vemos os efeitos deletérios na fé dos jovens, na formação sacerdotal, etc., mostrando que será necessário muito tempo para que o estrago seja consertado.
Quanto à formação dos sacerdotes, cabe igualmente lembrar que o Vigário de Cristo que hoje reina foi formado de maneira subterrânea, durante os duros tempos nazista e comunista em sua terra natal. Ele não teve uma formação de seminarista tradicional. A Polônia, no entanto, é uma terra cuja prática católica faz parte de uma mentalidade de resistência à dominação estrangeira sempre presente, ao contrário do Brasil. Assim, para ele é permissível um padre mal formado; ainda que inconscientemente, ele provavelmente conta com que a catolicidade e a devoção particular do sacerdote supram as falhas de sua formação, como sói acontecer em sua terra. Infelizmente, tal não é o caso aqui.
Devemos, porém, ter paciência e ajudar o papa em sua campanha, aproveitando que ele procura falar diretamente aos leigos e conduzir os leigos a papel importante na Restauração da Igreja, "passando por cima", de uma certa maneira, dos maus Bispos. Se cada um de nós, leigos, fizer a nossa parte resistindo respeitosamente às desobediências da hierarquia intermediária para obedecer à Igreja, este trabalho será muitíssimo mais fácil.
©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor
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Por que infelizmente, se o Pontífice permitiu? Por acaso considera mulheres seres inferiores ou indignos?
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