Este texto é minha resposta a uma mensagem que recebi de um protestante que visitou este site.
[nota de edição: os textos acima mencionados não estão mais hospedados no site original mas podem ser encontrados aqui: http://oprincipioeofim.hdfree.com.br/livro2.html ]
Vencendo a natural repugnância causada pelo forte odor de enxofre e pelo péssimo português do autor destas páginas, li as duas e, percebendo nelas um perfeito exemplo dos problemas causados pelo origem gnóstica do protestantismo, respondi da seguinte maneira:
Mas que besteirol comprido esse, hein?
Sinceramente, é difícil levar a sério um texto cheio de palavras em maiúsculas e erros de português, mas vamos lá...
Os problemas básicos dos textos cujas URLs vc me remeteu são:
1 - Erro eclesiológico grave de base gnóstica:
O autor parece ser um protestante revoltado com o próprio protestantismo devido a uma propensão gnóstica ainda mais acentuada que a da média protestante.
O que é a gnose? A Gnose (conhecimento, sabedoria, em grego) é uma das primeiras heresias do Cristianismo, surgida ainda no primeiro século. S. João escreveu seu Evangelho em parte para responder aos erros gnósticos. Para os gnósticos, a matéria era má; estávamos presos no corpo e deveríamos nos libertar. A partir daí, evidentemente, eles negavam a Encarnação do Verbo, afirmando que o Corpo de Cristo era apenas uma ilusão. É por isso que S. João começa o seu Evangelho com a afirmação contundente de que o Verbo, que é Deus e por Quem tudo foi criado, fez-se Carne e habitou entre nós.
Do mesmo modo, os gnósticos negavam o valor da Eucaristia, que eles achavam que não poderia ser composta de coisas tão físicas quanto a matéria de pão e de vinho. Assim, S. João dedica todo o sexto capítulo de seu Evangelho e uma firme pregação da factualidade física da Eucaristia.
A Gnose, hoje em dia, é encontrada em estado mais ou menos "puro" (somada na verdade a componentes decorrentes do iluminismo e positivismo da chamada "Renascença", fase negra da humanidade) nas seitas "novaera": Paulo Coelho, por exemplo, é um gnóstico "de carteirinha".
A primeira forma deste ressurgimento moderno da Gnose, porém, é o protestantismo.
Na Idade Média, a vida das pessoas era pautada por Deus; o calendário era o calendário religioso, a sociedade era vista e tida como uma busca da versão terrena (uma cópia imperfeita ) da Cidade de Deus, da Jerusalém Celeste.
Surgiu então o protestantismo, que negou aquilo que dava a base da sociedade: a própria existência do Depósito da Fé. Assim, cada um passou a ler e interpretar à sua própria maneira a Sagrada Escritura, arrancada do seu contexto (a Tradição Oral) e de seu intérprete avalizado pelo Autor (o Magistério). Isto só foi possível, evidentemente, pela invenção recentíssima da Imprensa. Afinal, até a invenção da Imprensa, para ter uma Bíblia era necessário copiá-la inteira manualmente. E isto pressupunha que houvesse alguém que tivesse uma para emprestar, possibilitando assim a cópia, e que o copista soubesse ler e escrever, o que faria dele sem dúvida uma exceção na sociedade...
Ainda durante a vida de Lutero, porém, a sua idéia original (Sola Scriptura) viu-se algo muito mais perigoso do que o que ele havia suposto. Lutero achava que o Depósito da Fé seria substituído por *sua* interpretação da Bíblia, que ele achava ser a correta e mais evidente (como vc acha em relação à sua, ou o adventista, ou o testemunha de jeová, ou o metodista... acham em relação às deles). Para sua surpresa, entretanto, surgiram várias e várias outras seitas concorrentes; dentre elas surgiu a que parece ter sido a versão mais primitiva de sua crença, a seita dos anabatistas, que negavam o valor salvífico do batismo, como vc o faz. Lutero lidou com elas de maneira bastante peculiar: mandando matar os seus membros, aproveitando que, para fugir das justas repreensões de seus desmandos (massacres de camponeses, etc.) oriundas da autoridade superior legítima (a Igreja), muitos nobres alemães se haviam aliado a Lutero, que os justificava.
Assim foi possível que a sociedade como um todo percebesse que a Sagrada Escritura, sozinha, não bastava. A Bíblia, só a Bíblia, não podia ser um referencial constante para todos, já que ela dava vazão a milhares de crenças em competição acirrada.
Foi então proposto um substituto para a Bíblia por parte dos iluministas (Maçonaria, Revolução Francesa, esse pessoal): a Razão. Eles achavam que a razão poderia dar respostas que fossem aceitas inequivocamente por todos. Note como a cada vez mais a sociedade foi se afastando da santificação das criaturas: antes toda a sociedade estava orientada para Deus; em seguida, ela passou a estar orientada para uma criação humana (as interpretações concorrentes da Bíblia); em seguida, ela passou a estar orientada para uma criação humana ainda mais desprovida de amarras: a Razão.
Foi mais tarde percebido, porém, que a Razão também não apelava a todos os homens; idéias opostas seduziam pessoas inteligentes, que achavam a idéia concorrente ilógica, e por aí vai.
Surgiu então a filosofia moderna, segundo a qual é impossível ter certeza sequer da existência de qualquer coisa; tudo, para eles, poderia ser uma ilusão mental. A única certeza que se poderia ter é da própria existência, já que nós podemos perceber que estamos a pensar ("penso, logo existo", disse Descartes; o sentido desta frase é que eu sei que eu existo por saber que penso, mas não tenho como saber se algo mais existe).
Desta filosofia moderna, evidentemente ainda mais alheia à relação das criaturas com o Criador, vieram a mentalidade subjetivista que domina hoje em dia tanto a sociedade como um todo quanto - de forma mais específica - as seitas protestantes.
Não é possível, afirma a filosofia moderna, saber o que é Verdade, ou sequer se existe uma Verdade; o que importa é o que está na cabeça de cada um, e isto importa apenas para o dono de cada cabeça.
Note como isto separa completamente o mundo criado de seu Criador. Afinal, não é sequer possível saber se existe realmente pão, como poderia ser possível que o pão se tornasse o Corpo e Sangue de Cristo?!
O protestantismo, em suas variantes modernas, é assim marcado por um subjetivismo extremo. A verdade não importa, na medida em que seria teoricamente impossível discernir o que é Verdade, ou sequer se uma Verdade pode existir.
Assim - voltando ao texto que vc pediu que eu lesse - os protestantes modernos "congregam-se", ou seja, juntam-se em algum lugar. Como até menciona o autor do texto, "o Sistema que se diz da graça, nos tem dito que devemos adorar a Deus quando congregarmos pelo menos três vezes na semana". Realmente, soa estranho que Deus peça apenas que as pessoas se juntem para cantar três vezes por semana!
Por que ocorre esta "congregação"? Porque na medida em que a fé do protestante é completamente subjetiva, ou seja, nao há nenhuma autoridade fora de sua própria cabeça, ele não pode fazer parte de alguma coisa; ele tem que, no máximo, "congregar-se" com outras pessoas cujas "verdades" sejam parecidas o suficiente com as dele para que não haja divergências graves. Assim temos, por exemplo, o caso da vice-governadora do Rio que saiu da seita onde "congregava" e passou a "congregar" em outra porque queria viver com um homem casado e a seita anterior não aceitava segundas núpcias. Não houve problema algum; ela passou a "congregar" em uma seita que aceitava, em uma seita onde as "verdades" pessoais da maior parte dos membros não condenavam segundas núpcias. A seita original ("Assembléia de Deus") não a condenou; para eles ela continua sendo uma "evangélica", mesmo "congregando" alhures.
Seguindo assim um molde gnóstico, a parte física, a parte, digamos, que se pode tocar (ou explicar...) da Revelação passa em brancas nuvens. Quanto mais "espiritual" (no sentido de "etéreo", "não-físico", "invisível"... imaginário!) o culto pessoal ou "congregacional", melhor. Pregar é "mais santo" que lavar a calçada. Uma "corrente de oração" é "mais santa" que trabalhar como carpinteiro...
A única coisa que resta de físico é o prédio, a que os "congregados" chamam geralmente de "igreja". Por vezes, como no caso da seita-cheque do pEdir MaisCedo (citada pelo autor do texto, ainda que não lhe dê nome), há uma idéia de uma "Igreja" com "I" maiúsculo, reunindo vários prédios onde "congregam-se" pessoas com idéias mais ou menos afins. Esta "Igreja" teria uma doutrina, que seria - no entender dos pregadores, claro - o sentido real da Sagrada Escritura.
Na medida, porém, em que a "Igreja de Cristo", a "Igreja verdadeira" seria uma reunião invisível de todos os que se afirmam salvos, não há como manter algo tão contrário à gnose quanto a idéia de que a doutrina de uma "Igreja" em particular estaria correta e seria o significado real da Sagrada Escritura. Afinal, isto significaria que os outros estariam enganados, que haveria uma Verdade única contra a qual só haveria erro. Assim até mesmo os macedistas afirmam tranquilamente que por exemplo um metodista, ou um batista (seita especialmente gnóstica, que nega toda e qualquer uso salvífico da matéria criada; os macedistas, por contágio doutrinário-prático umbandista, fazem uso supersticioso de matéria criada: arruda, sal grosso, "óleo santo", etc.) fazem parte da mesma "Igreja-invisível-que congrega-todos-os-salvos" que eles.
A diferença, portanto, não é mais nem poderia ser "onde congrega". O lugar onde um protestante "congrega-se" com outros protestantes é apenas um reflexo de suas idéias pessoais, que correspondem mais às daquele grupo que às de outro.
O autor do texto, porém, nega até mesmo a possibilidade de haver algum valor em qualquer unanimidade doutrinária parcial existente entre os "congregados" daqui ou dali. Em sua fobia gnóstica de toda a matéria criada, uma unanimidade de fé (sem que pese a injunçao bíblica de "uma só Fé, um só Batismo"...), pior ainda, uma unaminidade de fé expressa pela "congregação" em um edifício feito de tijolos, só pode ser oposta à "espiritualidade" pura, sem contato com a criação - que ele reputa ruim - de uma fé pura e completamente subjetiva e pessoal.
Assim, ele leva às últimas consequências o erro eclesiológico de origem gnóstica do protestantismo: onde os protestantes em geral vêem diferenças doutrinárias (expressas na escolha de onde "congregar-se") que são importantes para cada um mas se dissolvem quando se pensa em termos mais amplos em uma "Igreja invisível", onde reúnem-se "espiritualmente" pessoas que deixam suas diferenças doutrinárias, por assim dizer, na mesma porta onde deixam toda e qualquer coisa física criada, o autor do texto vê uma sólida penetração do mundo físico, que ele crê abominável. Diz ele que "Não há nada santo numa construção ou nos seus utensílios, porque são coisas naturais", esquecendo-se que também era coisa natural o lodo que Nosso Senhor usou para curar o cego, a borda de Seu manto que curou a hemorroíssa, os lenços dos Apóstolos - e suas sombras! - que curavam os doentes, a Arca da Aliança, o chão do monte onde Moisés subiu e teve que tirar os sapatos...
Para justificar seu ponto de vista, ele faz uma salada de frutas de citações bíblicas fora de contexto (ele aliás certamente adoraria o Evangelho apócrifo de Tomé, que afirma mais ou menos o mesmo tipo de Gnose), com alguns erros graves.
2 - Erros históricos mais graves (seria cansativo demais dar uma lista exaustiva dos erros históricos do autor com as devidas explicações; peço que me desculpe. Pelo volume desta msg vc pode perceber que não estou sendo pão-duro com o tempo que dedico a vc por amor a Deus...):
Além da confusão mental do autor, evidente quando em sua lista de lugares onde "Deus tabernaculou (SIC!) entre nós" ele omite o Segundo Templo, ele comete um erro histórico grave ao ver nas sinagogas o modelo das primeiras reuniões de cristãos. a referência bíblica que ele dá (At 15,21) só faz piorar a sua situação; trata-se da citação às sinagogas feita por S. Tiago no Concílio de Jerusalém, quando depois da definição ex-cathedra dada pelo Papa S. Pedro, isentando os cristãos da necessidade de seguir as leis de Moisés, S. Tiago lembra que seria uma boa prática pastoral, já que a Lei de Moisés é conhecida também entre os gentios *por haver sinagogas em toda parte*, propor tbm aos gentios que se abstenham de provar dos alimentos ofertados aos ídolos.
As sinagogas foram sempre vistas pelos judeus como um sinal de tristeza. Por que tristeza? Porque uma sinagoga é um lugar de oração sem Sacrifício. Quando o Primeiro Templo foi destruído, o culto sinagogal (leitura da Palavra e pregação) manteve o judaísmo funcionando até a construção do Segundo Templo. Uma sinagoga, porém, não substituía o Templo. Nela não havia o sacrifício de animais, ordenado por Deus para os judeus. A própria existência de sinagogas (mais ainda a existência exclusiva de sinagogas, sem templo) era para os judeus uma triste lembrança de não ser possível então cumprir todos os mandamentos que Deus lhes havia dado.
Após a Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz - Sacrifício perfeito e eterno, que substitui e leva à plenitude tudo o que os judeus queriam fazer com seus sacrifícios de animais, como nos ensina S. Paulo na Epístola aos hebreus - não havia mais necessidade do Templo dos judeus. O Sacrifício de Cristo, tornado novamente presente de forma incruenta na Missa, tomou o seu lugar. Assim sendo, Deus permitiu, para que não houvesse confusão, que os romanos destruíssem o Templo dos judeus. Desde a destruição do Segundo Templo (ocorrida aliás no mesmo dia - 9 do mês de Av - do calendário judeu que a destruição do Primeiro Templo), os judeus só tem sinagogas, ou seja, lugares onde ocorre um culto tristemente incompleto.
É compreensível que um protestante, que tbm tem um culto de natureza sinagogal, ou seja, incompleto por consistir apenas em rememoração mental - na melhor das hipóteses! - do Sacrifício, leitura da Palavra e pregação, veja muitas analogias entre as sinagogas dos judeus afastados de Deus e suas casas de culto.
Este triste culto incompleto, porém, só passou a existir em meios nominalmente cristãos depois de 1517, com a Revolta protestante. O culto cristão desde os primeiros séculos até hoje (sendo que nestes últimos 483 anos apenas na Igreja, não nas seitas protestantes que então começaram a surgir) é na verdade não uma continuação das sinagogas, mas uma continuação - uma substituição da sombra pelo fato - do culto do Templo. A liturgia cristã é extremamente aparentada à liturgia do Segundo Templo. A diferença crucial é que no Segundo Templo eles matavam bichos, dia após dia. Na liturgia cristã é tornado novamente presente o Sacrifício único e suficiente de Cristo na Cruz, sendo-nos dado a manducar o Seu Corpo e Seu Sangue, eficazes e necessários para a Salvação, enquanto era dada aos judeus apenas a carne ineficaz dos bichos mortos.
Além disso, o autor apresenta vários erros teológicos.
3 - Erros graves de matéria teológica:
O primeiro deles em importância é o menosprezo ao Sacrifício de Cristo na Cruz. Ele escreve que "Antes de Jesus enviar o Espírito Santo e morrer na cruz, disse: "ESTÁ CONSUMADO" (Jo 19.30). Jesus não falava a respeito do fato da nova aliança está consumada ou ratificada, ou do plano da redenção estar concluído, pois ainda não seria consumado somente com a morte de Jesus. Seria necessário que Jesus ressuscitasse dos mortos e ascendesse aos céus para que o plano da redenção fosse completado. "
Ora, isto é menosprezar o Sacrifício de Cristo na Cruz. É do Sacrifício de Cristo que obtemos as graças necessárias à nossa Salvação. Se Cristo não houvesse sido sacrificado na Cruz, não poderíamos ter sido salvos. Se Ele houvesse sido sacrificado, mas não ressuscitasse, poderíamos ser salvos da mesma maneira. A Ressurreição de Cristo foi a forma que Deus escolheu para nos lembrar que, ao contrário dos delírios gnósticos do autor, a matéria criada não é má. Deus a tudo criou e de tudo disse que era bom (Cf. os primeiros capítulos do Gênese). A Ressurreição do Senhor é para nós um motivo de esperança, um motivo de júbilo; sabemos pela Fé que caso morramos na graça de Deus ressuscitaremos em glória quando Ele voltar. Sabemos também que o corpo é precioso, que não é uma mera casca. Ele está doente, devido ao pecado de Adão; ele, porém, não é uma coisa má em si. O corpo é bom, apesar de estar doente. Tudo isso nos é ensinado pela Ressureição do Senhor.
É porém o Seu Sacrifício que nos possibilita que sejamos salvos. É o Seu Sacrifício que consumou a nossa redenção. Menosprezar este Sacrifício, que consumou em potencial a nossa Redenção, é um erro gravíssimo.
O segundo erro grave em importância é a delirante interpretação do Pecado de Adão. O livre-arbítrio (definição: capacidade de julgar e escolher entre dois bens aparentes - entre uma coisa boa e uma coisa má que são vistas como tal não há escolha a fazer, não é mesmo? É necessário que ambos pareçam bons) não é nem pode ser a Serpente do Édem. A serpente é o Inimigo, é o demônio.
A Serpente aproveitou-se do livre-arbítrio de Eva e de Adão, mas ela não é nem poderia ser sinônimo deste livre-arbítrio! É pelo livre-arbítrio, pela nossa capacidade de raciocinar e tomar decisões, que nos diferenciamos dos animais. Foi pelo livre-arbítrio - em que consiste o nosso ser criados à imagem e semelhança de Deus, que é Livre e o Árbitro supremo - que Adão pôde dar nomes a todos os animais e plantas...
Negar o livre-arbítrio é na verdade negar a capacidade de redenção do homem por Deus. Deus não nos nega o livre-arbítrio; se Ele no-lo negasse, teria simplesmente posto em Sua graça todos os homens, instantânea e indistintamente, sem que nós pudéssemos escolher. Escolha, escolher, eis no que consiste o livre-arbítrio!
É pelo livre-arbítrio que temos a capacidade de tomar a decisão crucial de nossas existências: seguir a Cristo ou permanecer nas vias do mundo. É pelo livre-arbítrio que podemos decidir a cada instante se aceitaremos a graça - que Deus nos oferece sem cessar - de fazer a coisa certa ou se nos negaremos a aceitá-la e continuaremos no pecado.
É, em suma, o livre-arbítrio que nos difere dos animais e nos faz homens, que nos faz sermos chamados pela Sagrada Escritura de "imagem e semelhança de Deus". Cachorros, gatos, cavalos... eles não têm livre-arbítrio. Eles agem por instinto, sem a capacidade de tomar uma decisão. Nós, não. Nós podemos, devido justamente ao nosso livre-arbítrio, tomar decisões. Cachorros seguem cadelas no cio. Homens têm a opção - pelo livre-arbítrio! - de não olhar sequer uma mulher bonita para não cobiçá-la em nossos corações.
O terceiro erro teológico grave é a essência da heresia protestante moderna: o subjetivismo. Lutero mandava matar os que não pensavam como ele, assim como Calvino. Isso ocorria por não serem subjetivistas. Cada um deles achava que a sua opinião era a Verdade objetiva inspirada por Deus e que era um crime gravíssimo levantar-se contra ela.
O protestante moderno, mais profundamente imbuído de gnosticismo, acha que a Verdade não existe - ainda que afirme paradoxalmente que ela exista. É neste sentido sintomático o trecho em que o autor do artigo afirma que "O DESCANSO para a IGREJA nesta DISPENSAÇÃO DA GRAÇA, não é nem o SÁBADO nem o DOMINGO como alguns, por falta do esclarecimento, da Verdade têm guardado". Ora, que "Verdade" é essa que "por falta de esclarecimento" permite três opiniões mutuamente excludentes (deve-se descansar no sábado ou se terá a marca da besta - opinião adventista; deve-se descansar no domingo, por ser o dia de descanso do cristão - verdade aceita pela maioria das denominações protestantes e ensinada pela Igreja; não se deve guardar nem o sábado nem o domingo, mas sim "descansar em Cristo", não corporalmente - opinião gnóstica do autor, que tem verdadeiro horror a qualquer coisa criada, inclusive o calendário...), todas tidas por pessoas que, afirma o autor, são "da Verdade"?!
Na verdade, para ele, não há Verdade objetiva. Pode-se ser "da Verdade" e aderir a uma opinião contraditória a outra, a que adere outra pessoa que é igualmente "da Verdade".
Isto significa que o que importa não é a adesão a uma verdade objetiva (o que é uma flagrante contradição com o testemunho bíblico; Nosso Senhor mandou ensinar a todos os povos, afirmou-Se a Verdade, o Caminho e a Vida, S. Paulo mandou não dar ouvidos a afirmações contraditórias com o que ele ensinava, etc.), mas um teórico "habitar do Espírito Santo", completamente subjetivo, na medida em que isso não implica em adesão a nenhuma Verdade (o horror do autor a qualquer sistematização ou apresentação coerente da verdade, por incompatível com sua visão gnóstica e subjetivista da salvação, é evidente ao longo do texto, com sua vituperação constante do "SISTEMA RELIGIOSO", sempre em incômodas maiúsculas...), a nenhum tipo de uso de coisas criadas (provavelmente o autor tbm nega a eficácia do Batismo), a nada, em suma, que não seja uma idolatria do tipo mais negro: a idolatria de si mesmo.
Não há idolatria maior que a pessoa afirmar-se "habitação do Espírito Santo" para com isso negar o valor da Revelação (que para o autor só tem valor quando é interpretada à parca luz de seu próprio umbigo, a que ele apelida de maneira blasfema "Espírito Santo"...), da própria Religião (que vem do latim "re-ligare", ligar-se novamente a Deus depois de por Adão ter sido perdida esta ligação), como visto no absurdo trecho a seguir: "Pergunto: Jesus falou alguma coisa sobre religião? (...) É claro que não!", de tudo que não seja uma afirmação subjetiva (portanto impossível de provar ou comprovar) de que a pessoa estaria "salva" e pertenceria a uma "Igreja" comodamente invisível e composta por todas as pessoas que em seu orgulho teriam o desplante de fazer a mesma orgulhosíssima e idolátrica afirmação.
©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor
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Fiquei com uma dúvida nesse texto, pode me responder? O culto da Igreja, não é nada mais que uma sinagoga certo? O templo apenas servia como construção para sacrificar animais, se Cristo Jesus é o cordeiro de Deus, não precisamos de um templo, pois o Espírito é quem habita em nós, e nós somos o seu tempo. Ou eu estou errado em afirmar isso? As igrejas não são apenas sinagogas cristãs?
ReplyDeleteO culto das seitas protestante sé análogo ao da sinagoga. O da Igreja é o Sacrifício Salvífico de Cristo tornado novamente presente de forma incruenta na Santa Missa.
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