Carlos Ramalhete estréia sua coluna semanal no jornal Gazeta do Povo.
Seria bom que os leitores deste blog prestigiassem a iniciativa dos editores deste jornal pela contratação do novo colunista enviando uma mensagem para lá parabenizando-os.
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Brasil de verdade
Publicado em 07/07/2011 | carlosgazeta@hsjonline.comSegundo a filosofia escolástica, “a verdade é a adequação do intelecto à coisa”. Se eu vejo uma laranja e tenho a ideia, no meu intelecto, de uma laranja, aquilo é verdade. Se eu penso “tangerina!” pode ser mais gostoso, mas não é verdade.
Pois no Brasil de hoje, o que mais acontece é que se olhe para uma laranja e se pense “melancia”, “cavalo”, ou “clarinete”. Vivemos uma realidade, mas pensamos outra.
Isso acontece em grande e em pequena escala. Desde o sistema de governo, em que na teoria, no intelecto, partidos políticos representam opções ideológicas distintas, enquanto na realidade eles são agrupamentos de conveniência pessoal ou social, até o sinal de trânsito, que quando vermelho indica apenas é bom olhar antes de cruzar: em tudo falta adequação do intelecto à coisa. Falta verdade.
O mais curioso é perceber que tanto na mídia, quanto na política e na vida cotidiana, o discurso, o intelecto, predomina sempre sobre a realidade. Ninguém fala de adequar o intelecto à coisa, só de adequar a coisa ao intelecto. Se as pessoas não param nos sinais vermelhos, ninguém pensa em substituí-los por algo mais realista, só em botar um radar para adequar a prática dos motoristas – a coisa – à ideia, ao intelecto. As propostas de reforma política partem do pressuposto de que é necessário fortalecer os partidos. As propostas legislativas querem adequar a população a uma ideia de como ela deveria ser. Da educação, então, melhor nem falar muito. O espaço é limitado demais para eu me dar ao luxo de me deixar começar.
O Brasil da ideia, da teoria, poderia até ser um país perfeito. Não sei. Temo que fosse uma ditadura horrorosa: temos leis demais, temos regras que, se aplicadas, nos impediriam de dar um passo que não fosse regido por algum dispositivo legal.
Já o Brasil real, a coisa-Brasil, é lindo. Nele as pessoas namoram, se casam, têm filhos. Nele a gente sempre dá um jeitinho para que ninguém brigue e ninguém se machuque muito. Nele, em suma, a gente vive, ama, e insiste teimosamente em ser feliz, apesar de todas as ideias brilhantes que o querem outra coisa.
Meu sonho é ter um Brasil em que o intelecto se adeque à coisa, em que toda a riqueza de modos de viver e de conviver, de evitar conflitos e solucionar problemas, sempre com muito jeitinho, seja abraçada pela lei e pelo discurso; um Brasil em que ninguém fique com vergonha de ser brasileiro e teime em adequar a linda coisa-Brasil a um artificialíssimo intelecto-Brasil.
Meu sonho é um Brasil de verdade.
Pois no Brasil de hoje, o que mais acontece é que se olhe para uma laranja e se pense “melancia”, “cavalo”, ou “clarinete”. Vivemos uma realidade, mas pensamos outra.
Isso acontece em grande e em pequena escala. Desde o sistema de governo, em que na teoria, no intelecto, partidos políticos representam opções ideológicas distintas, enquanto na realidade eles são agrupamentos de conveniência pessoal ou social, até o sinal de trânsito, que quando vermelho indica apenas é bom olhar antes de cruzar: em tudo falta adequação do intelecto à coisa. Falta verdade.
O mais curioso é perceber que tanto na mídia, quanto na política e na vida cotidiana, o discurso, o intelecto, predomina sempre sobre a realidade. Ninguém fala de adequar o intelecto à coisa, só de adequar a coisa ao intelecto. Se as pessoas não param nos sinais vermelhos, ninguém pensa em substituí-los por algo mais realista, só em botar um radar para adequar a prática dos motoristas – a coisa – à ideia, ao intelecto. As propostas de reforma política partem do pressuposto de que é necessário fortalecer os partidos. As propostas legislativas querem adequar a população a uma ideia de como ela deveria ser. Da educação, então, melhor nem falar muito. O espaço é limitado demais para eu me dar ao luxo de me deixar começar.
O Brasil da ideia, da teoria, poderia até ser um país perfeito. Não sei. Temo que fosse uma ditadura horrorosa: temos leis demais, temos regras que, se aplicadas, nos impediriam de dar um passo que não fosse regido por algum dispositivo legal.
Já o Brasil real, a coisa-Brasil, é lindo. Nele as pessoas namoram, se casam, têm filhos. Nele a gente sempre dá um jeitinho para que ninguém brigue e ninguém se machuque muito. Nele, em suma, a gente vive, ama, e insiste teimosamente em ser feliz, apesar de todas as ideias brilhantes que o querem outra coisa.
Meu sonho é ter um Brasil em que o intelecto se adeque à coisa, em que toda a riqueza de modos de viver e de conviver, de evitar conflitos e solucionar problemas, sempre com muito jeitinho, seja abraçada pela lei e pelo discurso; um Brasil em que ninguém fique com vergonha de ser brasileiro e teime em adequar a linda coisa-Brasil a um artificialíssimo intelecto-Brasil.
Meu sonho é um Brasil de verdade.
©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor
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