Gazeta do Povo - Publicado em 28/10/2008 | Carlos Ramalhete
As primeiras universidades foram instituições religiosas. Do mesmo modo, os valores humanos dos laicistas mais exacerbados – como a dignidade da pessoa humana, o valor da vida ou a adesão a um código ético – são versões reduzidas e resumidas de preceitos cristãos.
Contudo, em alguns meios de intelectualidade rasa, é moda prezar os valores oriundos do cristianismo e, ao mesmo tempo, desprezar a religião que os gerou. Antes dela, na Roma pagã, por exemplo, a vida humana pouco valia: o pai tinha direito de vida e morte sobre toda a família, e no circo o “palhaço” era morto por feras. Se não fosse a ascensão do cristianismo, ainda hoje seria assim; se o cristianismo desaparecesse, os valores humanistas também desapareceriam, por falta de base. Sem sua base cristã, a única razão para aceitar estes valores é “porque sim”.
O fato é que nossa sociedade está passando por uma séria crise de adolescência, revoltando-se contra as origens de tudo o que ela diz prezar. Esta crise também se reflete nas universidades, de que um ou outro deseja expulsar a expressão religiosa. Ora, ao negar o desejo humano de Deus, faz-se apenas com que falsos deuses – partidos, “celebridades” ou teorias da moda – tentem inutilmente preencher o vazio. Além disso, proibir alguém de professar sua fé no ambiente universitário é tão arbitrário quanto exigir que se siga, obrigatoriamente, uma religião. É a ditadura do laicismo.
Quando começou esta separação artificial entre os valores que vêm do cristianismo e a fé que lhes deu origem, há coisa de 200 anos, seus defensores ainda pregavam a necessidade da crença religiosa como meio de garantir o bom comportamento da “massa ignara”. Depois, nem isso mais admitiam: no Rio há ainda a Igreja Positivista do Brasil, a que pertencia Benjamin Constant, que mantém uma imitação de capela católica com Gutenberg e Descartes no lugar dos santos, qual museu de uma tentativa frustrada de criar o homem sem Deus, há cerca de um século.
Hoje esta crise adolescente está em seu auge, com a sociedade querendo negar a figura do pai – Deus – e ver-se livre da figura da mãe – a cristandade –, sem aceitar que é deles que vem. Pipocando como espinhas, ateus militantes vendem mentiras requentadas e movimentos laicistas procuram impedir a expressão religiosa, sem que percebam que estão atacando a religião em nome de valores que provêm dela mesma, de valores que, antes da ascensão do cristianismo, seriam tidos por loucura.
É pena, mas até mesmo na universidade este tipo de contra-senso ainda aparece. É perfeitamente normal que, como o adolescente que não precisa mais ser guiado pela mão ao atravessar a rua, a universidade tenha se distanciado um pouco de suas origens. A especialização extremada do ambiente acadêmico de hoje, em que o químico ignora o que estuda o biólogo, também deixa pouco espaço para a discussão teológica, forçosamente mais abrangente que os caminhos hoje separados das ciências. Mesmo assim, apenas em meio a pessoas pouco afeitas ao raciocínio lógico seria concebível não perceber a tremenda contradição que é pregar valores que vêm da religião e ao mesmo tempo atacá-la; na universidade, seria de se esperar que isto não acontecesse. Afinal, crises de histeria adolescente não ficam bem sequer nos adolescentes, quanto mais em universidades.
O papel da religião na universidade, assim, é cuidar para que ela não se distancie dos valores em que se baseiam tanto ela quanto a própria sociedade ocidental. Como o tronco de uma árvore, que comunica às raízes o que vem das folhas e às folhas o que vem das raízes, a presença religiosa impede que a ciência perca seu norte ético. Para tal, deve haver na universidade ao menos um chamado à oração e à meditação, um reconhecimento explícito da necessidade de proteção divina (como há na Constituição, aliás), uma capela, atos de culto oficiais e imagens religiosas...
Em suma: apoio, abertura e tolerância para com as manifestações religiosas de todos os que, juntos, compõem este “universo de mestres e estudiosos” chamado universidade. Só assim ela pode evitar a triste posição de adolescente mimado que renega a origem de sua existência, valores e sobrevivência.
As primeiras universidades foram instituições religiosas. Do mesmo modo, os valores humanos dos laicistas mais exacerbados – como a dignidade da pessoa humana, o valor da vida ou a adesão a um código ético – são versões reduzidas e resumidas de preceitos cristãos.
Contudo, em alguns meios de intelectualidade rasa, é moda prezar os valores oriundos do cristianismo e, ao mesmo tempo, desprezar a religião que os gerou. Antes dela, na Roma pagã, por exemplo, a vida humana pouco valia: o pai tinha direito de vida e morte sobre toda a família, e no circo o “palhaço” era morto por feras. Se não fosse a ascensão do cristianismo, ainda hoje seria assim; se o cristianismo desaparecesse, os valores humanistas também desapareceriam, por falta de base. Sem sua base cristã, a única razão para aceitar estes valores é “porque sim”.
O fato é que nossa sociedade está passando por uma séria crise de adolescência, revoltando-se contra as origens de tudo o que ela diz prezar. Esta crise também se reflete nas universidades, de que um ou outro deseja expulsar a expressão religiosa. Ora, ao negar o desejo humano de Deus, faz-se apenas com que falsos deuses – partidos, “celebridades” ou teorias da moda – tentem inutilmente preencher o vazio. Além disso, proibir alguém de professar sua fé no ambiente universitário é tão arbitrário quanto exigir que se siga, obrigatoriamente, uma religião. É a ditadura do laicismo.
Quando começou esta separação artificial entre os valores que vêm do cristianismo e a fé que lhes deu origem, há coisa de 200 anos, seus defensores ainda pregavam a necessidade da crença religiosa como meio de garantir o bom comportamento da “massa ignara”. Depois, nem isso mais admitiam: no Rio há ainda a Igreja Positivista do Brasil, a que pertencia Benjamin Constant, que mantém uma imitação de capela católica com Gutenberg e Descartes no lugar dos santos, qual museu de uma tentativa frustrada de criar o homem sem Deus, há cerca de um século.
Hoje esta crise adolescente está em seu auge, com a sociedade querendo negar a figura do pai – Deus – e ver-se livre da figura da mãe – a cristandade –, sem aceitar que é deles que vem. Pipocando como espinhas, ateus militantes vendem mentiras requentadas e movimentos laicistas procuram impedir a expressão religiosa, sem que percebam que estão atacando a religião em nome de valores que provêm dela mesma, de valores que, antes da ascensão do cristianismo, seriam tidos por loucura.
É pena, mas até mesmo na universidade este tipo de contra-senso ainda aparece. É perfeitamente normal que, como o adolescente que não precisa mais ser guiado pela mão ao atravessar a rua, a universidade tenha se distanciado um pouco de suas origens. A especialização extremada do ambiente acadêmico de hoje, em que o químico ignora o que estuda o biólogo, também deixa pouco espaço para a discussão teológica, forçosamente mais abrangente que os caminhos hoje separados das ciências. Mesmo assim, apenas em meio a pessoas pouco afeitas ao raciocínio lógico seria concebível não perceber a tremenda contradição que é pregar valores que vêm da religião e ao mesmo tempo atacá-la; na universidade, seria de se esperar que isto não acontecesse. Afinal, crises de histeria adolescente não ficam bem sequer nos adolescentes, quanto mais em universidades.
O papel da religião na universidade, assim, é cuidar para que ela não se distancie dos valores em que se baseiam tanto ela quanto a própria sociedade ocidental. Como o tronco de uma árvore, que comunica às raízes o que vem das folhas e às folhas o que vem das raízes, a presença religiosa impede que a ciência perca seu norte ético. Para tal, deve haver na universidade ao menos um chamado à oração e à meditação, um reconhecimento explícito da necessidade de proteção divina (como há na Constituição, aliás), uma capela, atos de culto oficiais e imagens religiosas...
Em suma: apoio, abertura e tolerância para com as manifestações religiosas de todos os que, juntos, compõem este “universo de mestres e estudiosos” chamado universidade. Só assim ela pode evitar a triste posição de adolescente mimado que renega a origem de sua existência, valores e sobrevivência.
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©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor
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